COMO A PSICANÁLISE
Considerada uma disposição de espírito, a inveja foi definida por Spinoza (1999) como “o ódio que afeta o homem de tal modo que ele se entristece com a felicidade de outrem e, ao contrário, se alegra com o mal de outrem” (p. 316). Geralmente ela diz respeito ao desejo de possuir ou gozar o que é possuído ou gozado por outrem (Houaiss e Villar, 2001). O invejoso sofre por aquilo que lhe falta, ainda quando se alegra com o sofrimento alheio. Melanie Klein (1964) disse que a pessoa invejada é tida como possuidora daquilo que é mais desejado: um objeto bom, sendo que o impulso invejoso visa tomá-lo ou estragá-lo. O aspecto destrutivo está sempre presente na inveja e, para a teoria kleiniana, os impulsos destrutivos operam desde o começo da vida, em que o bebê coloca partes más de si mesmo, excrementos e outras maldades na mãe e no peito para estragar e destruir o que há de bom. Isso significa que para conhecer a inveja é preciso estudar os caminhos e os processos da capacidade de odiar e de destruir, da qual ela é um derivativo. Desse modo, seguindo as indicações de Feldman e De Paola (1998), posso tomá-la na categoria dos sentimentos e não dos impulsos. Para a caracterização de um sistema mental determinante baseio-me na inveja como uma forma de ódio intensificado. Quanto aos aspectos particulares da inveja que aparecem, por exemplo, sob as modalidades de inveja do pênis e inveja do outro sexo, acredito que façam parte do conceito mais amplo que estou considerando.Todo psicanalista vez por outra se depara com um paciente que, ao lhe oferecer uma boa interpretação, retruca imediatamente que não é um fato novo, pois já havia pensado nisso. Menos frequente, mas ainda comum, é o paciente que faz isso com um grande número de ideias que lhe são oferecidas. Agora, há aqueles que costumam atacar tudo ou quase tudo o que o psicanalista lhe diz, porque não suportam uma mente criativa. Com o tempo, verifica-se que não conseguem usar aquilo que lhes é interpretado e todo o processo de análise corre o risco de ruir. Eles dizem que já sabem aquilo que é falado e visivelmente o desperdiçam, jogando fora o que muitas vezes é conseguido com esforço. N ão raro, têm ocasião de pensar sobre o que é dito, mas o ataque invejoso impede a utilização em seu benefício. Não podem fazer alguma coisa com os pensamentos do analista, tampouco com os próprios, por isso se esterilizam. Se pudessem perceber os ataques invejosos e aceitar o sistema mental da inveja, comporiam com o psicanalista uma força conjugada em favor de seu crescimento psíquico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário