RESPEITE O DIREITO DE NÃO QUERER TE OUVIR ( DR FABIO GIKOVATE)
Respeite o meu direito de não querer te ouvir ou ver
6 de janeiro de 2014 | 10 Comments
O fato de alguém querer muito a nossa
atenção não nos obriga a aceitar sua aproximação. Ao insistir em seu
objetivo, mesmo que nos ame, ela estará sendo prepotente e egoísta.
Um senhor me acusou de desrespeitoso e mal-educado. Motivo? Não quis falar com ele ao telefone. Não o conheço, sabia que ele queria fazer críticas — “construtivas” — ao meu trabalho. Não me interessei em saber quais eram.
Uma colega me conta que sua mãe lhe diz:
“Sua amiga de infância esteve aqui e está louca para revê-la. Quando
posso marcar o encontro?” Minha colega não tem interesse em saber como
está essa pessoa, nem deseja reencontrá-la.
Uma filha atende o telefone e diz ao
pai: “Fulano quer falar com você”. O pai responde: “Diga que não estou”.
“Mas ele diz que quer muito falar com você.” O pai: “Sim, mas eu não
quero falar com ele!”
Afinal de contas, quem está com a razão?
Aquele que se sente ofendido por não ser ouvido ou recebido? Ou quem se
acha com o direito de só receber as pessoas que lhe interessam?
Quem faz questão de colocar sua opinião
tem direito a isso ou é prepotente por achar que o outro tem que
ouvi-lo, apenas porque ele está com vontade de falar? Ou é egoísta e
desrespeitoso aquele que só fala e recebe as pessoas que lhe interessam
ou quando está com vontade?
Acho fundamental tentarmos entender
essas questões aparentemente banais, uma vez que elas são parte das
complicadas relações no cotidiano de todos nós. Elas envolvem questões
morais e dos direitos de cada um. Tratam do que é justo e do que é
injusto.
Acredito que é direito legítimo de cada
um falar ou não com qualquer outra pessoa. O fato de ela querer muito
nossa atenção não nos obriga a aceitar sua aproximação. E isso independe
das intenções de quem deseja o convívio.
Posso, se quiser, recusar a aproximação
de uma pessoa, mesmo que ela venha me oferecer o melhor negócio do
mundo. E o fato de uma pessoa me amar também não a autoriza a nada! Não
pode, apenas por me amar, desejar que eu a queira por perto.
Ao forçar a aproximação com alguém que
não esteja interessado nisso, a pessoa estará agindo de modo agressivo,
autoritário e prepotente.
As belas intenções não alteram o caráter
prepotente da ação. Na verdade, egoísta é quem quer ver sua vontade
satisfeita, mesmo se isto for unilateral. Ele não está ligando a mínima
para o outro.
O mesmo raciocínio vale para as pessoas
amigas. Não tem o menor sentido eu ir à casa de um amigo para dizer-lhe o
que penso de uma determinada atitude sua que não me diz respeito, mesmo
que eu não tenha gostado ou aprovado.
Ele não me perguntou nada! Ainda que
goste muito de mim, talvez não queira saber minha opinião. Talvez não
deseje saber a opinião de ninguém! É direito dele.
Pode também acontecer o contrário: a
pessoa desejar a minha opinião e eu me recusar a dar. Aí é o outro quem
tem de respeitar o meu direito de omissão. Não cabe a frase do tipo:
“Mas nós somos tão amigos e temos que dizer tudo um ao outro”.
É assim que, com frequência, se perdem
bons amigos. É preciso ter cautela com o outro, com o direito do outro.
Não basta ter vontade de falar. É preciso que o outro esteja com vontade
de ouvir.
Nós nos tornamos inconvenientes e agressivos quando falamos coisas que os outros não estão a fim de ouvir.
Raciocínio idêntico vale também para as relações íntimas — entre parentes, em geral, e marido e mulher, em particular.
Nesses casos, o desrespeito costuma ser
ainda maior. As pessoas dizem e fazem tudo o que lhes passa pela cabeça.
É um perigo. Elas não param de se ofender e de se magoar. Acreditam
que, só porque são parentes, têm o direito de falar tudo o que pensam,
sem se preocupar como o outro irá receber aquelas palavras.
Toda relação humana de respeito implica a necessidade de se imaginar o que pode magoar gratuitamente o outro.
É necessário prestar atenção no outro, para evitar agressões, mesmo involuntárias.
Quando as pessoas falam e fazem o que
querem, sem se preocupar com a repercussão sobre o outro, é porque nelas
predomina o egoísmo ou o desejo de magoar.
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