quinta-feira, 29 de maio de 2014

O QUE CAUSA NAS PESSOAS

O QUE CAUSAS NAS PESSOAS.

ique atento

Ao contrário da tristeza natural, a depressão é uma doença séria que exige ajuda médica. Veja alguns sintomas da depressão
• Melancolia profunda e incessante por mais de 15 dias consecutivos.
• O sentimento é incapacitante, ou seja, impede ou dificulta a execução das atividades normais.
• Perda de interesse em atividades que antes davam prazer, incluindo sexo.
• Dificuldade de raciocínio e concentração.
• Irritabilidade e ansiedade.
• Fadiga constante e perda de energia.
• Alterações nos hábitos de sono, como excesso de sonolência ou insônia.
• Pensamentos freqüentes sobre morte e suicídio.
• Mudanças no apetite.
• Tendência ao isolamento.  

TRISTEZA (3)

TRISTEZA (3)

Impulso criativo

Alguns artistas e intelectuaisviveram o auge da produçãonos momentos de melancolia
O que seria da música se seus compositores não tivessem passado por terríveis dores-de-cotovelo? Provavelmente, não existiriam os mais belos sambas, valsas, tangos, chorinhos e afins que tanto fazem bem aos nossos ouvidos. E essa constatação vale também para outras formas de expressão artística.
O compositor alemão Ludwig van Beethoven redigiu a maior parte de suas sinfonias, incluindo a “Nona”, em momentos de profunda tristeza – acredita-se que o sentimento era alimentado pela sua precoce surdez e por três amores impossíveis. Outro clássico alemão, Franz Schubert, um melancólico de carteirinha, compôs em1822 a maravilhosa “Oitava Sinfonia”, obra tão angustiada que ficou inacabada.
Na literatura, o poeta português Fernando Pessoa escreveu a maioria de seus textos quando se sentia ensimesmado – prova disso é que assumia diversas personalidades literárias.
Um estudo da Harvard Medical School, de Boston, publicado em 2003, examinou a criatividade de 17 pacientes com depressão e concluiu que eles tiveram um melhor desempenho criativo do que pessoas sem histórico de doenças psíquicas. Isso indica que até mesmo a tristeza que se torna patológica pode ter lá sua serventia.  

TRISTEZA (2)

TRISTEZA (2)

Felicidade tirana
É fato: a obrigação de ser feliz o tempo todo está virando uma obsessão a ponto de causar angústia. “A felicidade é efêmera por definição. Por isso, as pessoas que só pensam nela sofrem muito mais e se distanciam das pequenas alegrias da vida”, afirma o escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua (Bertrand Brasil, 2002), no qual critica o que chama de “tirania da felicidade”. “Hoje em dia, sofre-se também por não querer sofrer, do mesmo modo que se pode adoecer de tanto procurar a saúde perfeita.” Não é à toa que os antidepressivos são um sucesso arrebatador nas farmácias. Para se ter uma idéia, em 2000, o Prozac, propagado como a “pílula da felicidade”, rendeu 2,6 bilhões de dólares aos cofres do laboratório fabricante. “É bom lembrar que essas drogas não fazem efeito em pessoas normais, ou seja, em quem não sofre de depressão. As substâncias antidepressivas não são necessariamente estimulantes”, diz o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
Evitar a tristeza vem sendo um ideal tão perseguido que está chamando a atenção de pesquisadores do mundo todo. A conclusão: estar infeliz é mais do que natural, é necessário à condição humana. Segundo o psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, a tristeza é um dos raros momentos que nos permite reflexão, uma volta para nós mesmos, uma possibilidade de nos conhecer melhor, de saber o que queremos, do que gostamos. E somente com essa clareza de dados é que podemos buscar as atividades que nos dão prazer, isto é, que nos fazem felizes.
Ferreira-Santos concorda. “A tristeza com relação a algum fato nos leva a pensar sobre ele. Pensamos em soluções, ou seja, trata-se de um mecanismo psíquico que nos dá condições de reflexão sobre nós mesmos e até mesmo para evitar a repetição do erro.” Assim como a dor e o medo, a tristeza nos ajuda a sobreviver. Sim, porque se não sentíssemos medo, poderíamos nos atirar de um penhasco. E se não tivéssemos dor, como o organismo poderia nos avisar que algo não vai bem?

Insatisfação passageira
O pesquisador americano Robert Wright acredita que a tristeza tenha sua participação até mesmo no processo evolutivo. “Se a alegria que vem após o sexo não terminasse nunca, os animais copulariam apenas uma vez na vida”, diz Wright. Para ele, a felicidade é propositadamente projetada para escapar – e dessa forma corremos atrás daquela maravilhosa sensação que sentimos anteriormente. Um estudo feito em 1978 com ganhadores da loteria mostra o caráter momentâneo da felicidade: os sortudos tiveram picos de alegria logo após a premiação, mas tenderam a voltar aos níveis anteriores pouco tempo depois. O inverso é verdadeiro. No mesmo estudo, pessoas que ficaram paraplégicas em acidentes recuperaram seus níveis de felicidade dois meses depois. Ou seja: a tristeza, quando é um sentimento saudável e natural da vida, tem fim. Se não passar, aí é bom se preocupar, pois pode virar depressão, doença que afeta cerca de 20% da população mundial.
“Mas tem muita gente que confunde as coisas, diz que está deprimido porque perdeu o emprego ou brigou com a namorada. Isso não é depressão, é tristeza. Depressão é uma síndrome e nunca vem isolada”, afirma o psiquiatra Ricardo Moreno. Foi o que aconteceu com a administradora de empresas Patrícia Menziane, de 25 anos. “Depois de perder um bebê, me senti muito mal. As pessoas me cobravam uma volta por cima, me incentivavam a sorrir, mas não dava. Demorou para descobrir que eu não era infeliz, apenas estava infeliz”, conta.
Um dos pilares do budismo é a impermanência, segundo a qual tudo é transitório, em constante mudança. Para Dalai Lama, se as coisas podem ficar ruins de um momento para outro, as ruins também podem ficar boas rapidamente. O ideal é aprender os recados da tristeza enquanto ela não vai embora.
 

TRISTEZA UMA DOR QUE MUITAS VEZES DURAM ANOS (1)

TRISTEZA UMA DOR QUE MUITAS VEZES DURA ANOS (1)

É bem melhor ser alegre do que ser triste, já dizia Vinícius de Moraes. Sem dúvida. O poetinha ia mais longe, entoando em rima e prosa que tristeza não tem fim. Já a felicidade, sim. Até hoje, muita gente chora ao ouvir esses versos porque tocam num ponto nevrálgico da vida humana: os sentimentos. E quando tais sentimentos provocam algum tipo de dor, fica difícil esquecer – e ainda mais suportar. A tristeza, uma das piores sensações da nossa existência, funciona mais ou menos assim: parece bonita apenas nas músicas. Na vida real, ninguém gosta, ninguém quer.
Pois bem, caro leitor, está na hora de rever seus conceitos. Você já deve ter percebido que a tristeza faz parte da vida, então o jeito é aprender a lidar com ela. Quem já experimentou a sensação de felicidade, certamente, já ficou triste também – até porque uma não existe sem a outra. Por isso, em vez de ficar se lamentando, a partir de agora você vai descobrir que o estado de melancolia tem seu lado bom, podendo até ser produtivo em muitos casos.

Por que ficamos tristes?
Tristeza é um sentimento que responde a estímulos internos, como recordações, memórias, vivências; ou externos, como a perda de um emprego ou de um amor. Não se trata de uma emoção, que é uma resposta imediata a um estímulo. No caso da tristeza, nosso organismo elabora a sensação e amadurece-a antes de manifestar. É uma resposta natural a situações de perda ou de frustrações, em que são liberados hormônios cerebrais, chamados neurormônios, responsáveis pela angústia, melancolia ou coração apertado.
Como ninguém recebe somente notícias boas o dia todo, não há como fugir do estado de tristeza. O que dá para mexer é no significado dos estímulos e assim fazer com que ela apareça em menor grau de intensidade. “A tristeza é uma resposta que faz parte da nossa forma de ser e estar no mundo. Passamos o dia flutuando entre pólos de alegria e infelicidade”, afirma o médico psiquiatra Ricardo Moreno, coordenador do Grupo de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Se passamos o dia entre esses pólos de flutuação, é bom não levar tão a sério os comerciais de margarina em que a família é linda, perfeita, alegre e até os cachorros parecem sorrir o tempo inteiro. Não apenas na televisão, mas vivemos uma época em que a felicidade constante é praticamente um dever de todos. O físico, matemático e filósofo francês Blaise Pascal é autor de algumas das mais famosas reflexões sobre o tema. “A felicidade é o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar”, escreveu no século 17. O desejo desenfreado de querer ser feliz ganhou até status de direito social a partir do movimento iluminista, no século 18, cuja filosofia influenciou a Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos. Na Constituição americana, a busca da felicidade é assegurada como um “direito inalienável” dos cidadãos. “Quando passo por momentos de melancolia sem saber o porquê, me sinto até culpado. Afinal, como um sujeito bem-sucedido profissionalmente, com namorada e uma família linda, poderia se sentir triste?”, diz o analista de sistemas Guilherme Azevedo,de 26 anos.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

RUINAS DA AMIZADE


Ruinas da amizade

Augusto BrancoAugusto Branco
Quando você encontra alguém especial e se apaixona por essa pessoa, você começa a construir um relacionamento com os cuidados de quem constrói uma Maravilha. Seus materiais básicos são constituídos de muito Amor, Companheirismo e Dedicação. Até que um dia algo terrível acontece, jogando por terra toda sua construção. É desalentador e faz mesmo pensar que todo seu trabalho fora em vão. Mas isso é ledo engano: se construistes tudo realmente com beleza e pureza de sentimento, restará ainda uma magnífica Amizade. Assim como as mais majestosas construções da Humanidade deixaram suntuosas ruínas das quais cuidamos e admiramos, a Amizade fruto de um Amor de verdade, deve e merece ser preservada.

AMIGOS

AMIGOS.

o que é que ela vê nele?

Martha Medeiros
E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana? Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros. Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda.

QUERO TER UM AMIGO (A)(2)

QUERO TER UM AMIGO (a) 2


Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito. Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos. Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país. Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu. Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon. Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador. Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.


QUERO TER UM AMIGO DE VERDADE

QUERO TER UM AMIGO DE VERDADE.

Faça uma lista de grandes amigos, quem você mais via há dez anos atrás... Quantos você ainda vê todo dia? Quantos você já não encontra mais? Faça uma lista dos sonhos que tinha... Quantos você desistiu de sonhar? Quantos amores jurados pra sempre... Quantos você conseguiu preservar? Onde você ainda se reconhece, na foto passada ou no espelho de agora? Hoje é do jeito que achou que seria? Quantos amigos você jogou fora... Quantos mistérios que você sondava, quantos você conseguiu entender? Quantos defeitos sanados com o tempo, era o melhor que havia em você? Quantas mentiras você condenava, quantas você teve que cometer? Quantas canções que você não cantava, hoje assobia pra sobreviver ... Quantos segredos que você guardava, hoje são bobos ninguém quer saber ... Quantas pessoas que você amava, hoje acredita que amam você?


OBRIGADO A TODOS MEUS LEITORES UM BEIJO NO CORAÇÃO.

Público

Gráfico dos países mais populares entre os visualizadores do blog

PROCURO RESPONDER A TODOS.

Gráfico de page views 2924 visualizações de página - OBRIGADO A TODOS OS PAISES. 

POSSO TER DEFEITOS.

Posso ter defeitos

Augusto Cury
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.


A ARTE DE SER FELIZ

A arte de ser feliz

Cecília Meireles


Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. 
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. 
Outras vezes encontro nuvens espessas. 
Avisto crianças que vão para a escola. 
Pardais que pulam pelo muro. 
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. 

Às vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. 
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

PAZ (3)

PAZ (3)


VIVER EM PAZ

Todos nos sonhamos com uma existência plena de felicidade, paz e harmonia. Embora esta paz se encontre ao nosso alcance todo tempo, poucos são os que sabem realmente viver em paz, pois ignoram onde ela se encontra.

Muitos são os que a procuram no companheiro, no marido ou na esposa, nas honrarias de um título de doutor ou de alto executivo, num partido político, numa ideologia, no Japão ou no Himalaia.

Eles acabam não encontrando o que procuravam e continuam infelizes, brigando com todo mundo, procurando refugio num excesso de atividade e trabalho febril, acabando estressados e doentes.

Hoje, graças ao encontro da medicina psicossomática moderna e das novas terapias, com a sabedoria vindo do oriente e das grandes tradições espirituais, se sabe quais as grandes áreas em que se pode atuar para encontrar esta paz que perdemos, pois poucos são os pais e educadores contemporâneos que ainda possuem estes conhecimentos e estão realmente em condições de transmiti-los aos seus filhos ou educandos.

Onde podemos pois encontrar paz e serenidade?

O que vem a seguir constitui para você, leitor, uma verdadeira dádiva, um precioso tesouro ao alcance de quem se dispõe a assumir entrar a fundo, seguindo as indicações e conclusões destas descobertas que estão ao alcance de qualquer um. Trata-se do que começa a ser conhecido como as três ECOLOGIAS ou ainda as três CONSCIÊNCIAS.


AS TRÊS ECOLOGIAS E AS TRÊS CONSCIÊNCIAS

Existem três direções nas quais podemos enxergar a Paz. Cada uma delas necessita de um forma de consciência e de um tipo de ecologia.

A primeira é consigo mesmo, ou melhor ainda, dentro de cada um. Há momentos em que estamos em paz e há outros em que estamos tensos e agitados, nem sempre sabendo porque.

Há por conseguinte, necessidade da consciência individual para definir e localizar a paz dentro de nós mesmos para em seguida dizer como alcançá-la. É o que se chama de ecologia interior ou ecologia do ser, que se apoia na consciência individual. A ecologia individual é o estado de harmonia do ser pessoal.

A segunda direção é a Paz com os outros. Esta paz também é instável nas nossas relações com marido, mulher, amigos, colegas, pais e filhos etc.

Como se carateriza esta paz e como torná-la estável? eis uma questão de ecologia social, isto é, de harmonia com a sociedade e dentro dela. A ecologia social pressupõe, exige e depende da consciência social de cada cidadão e de uma consciência social coletiva maior do que a soma das consciências individuais.

Em fim, há uma questão bastante séria e vital para nós, é a Paz com o meio ambiente em que vivemos, com a natureza em torno de nós. Poucas pessoas até hoje tem uma idéia clara de que jogar o nosso lixo num riacho ou usar um spray consiste numa violência com a natureza, e que é uma forma de contribuir para o nosso próprio suicídio, como membros da humanidade.

A Paz na ecologia ambiental e como contribuir para ela, é a terceira questão essencial para vivermos com qualidade.

A ecologia ambiental é um estado de equilíbrio dos ecossistemas. Este equilíbrio, tudo o indica, é uma expressão da Consciência do Universo. Com a intervenção destrutiva, pelo ser humano, do equilíbrio ecológico, foi e continua sendo indispensável o despertar da consciência ecológica individual em cada cidadão do planeta.




PIERRE WEIL

PAZ (2)

PAZ (2)

VIVER EM PAZ É UMA ARTE

Viver em paz é uma arte,
saber vive-la é um mérito...
Na realidade ou na fantasia,
é coisa a ser vivida a cada dia...
Sabendo viver nossa paz interior,
já é meio caminho andado...
Para que perder tempo brigando, discutindo?
Deixando o coração magoado,
ao invés de apenas procurar a paz interior...
A melhor coisa é ignorar o que nos desagrada,
pois é assim que se obtém a paz interior...
Esquecendo mágoas, ofensas,
procurando apenas viver a vida,
vivendo um pouco a cada dia...
Mas devemos faze-lo com arte e muito cuidado...
A vida é uma arte...
E vive-la em paz, arte maior ainda...

APAZ INTERIOR(1)

A PAZ INTERIOR (1)

A paz está dentro de nós. Ou então não existe. Se é no espírito dos homens que começam as guerras, então, como disse Robert Muller em 1989, “é nas escolas da Terra que se moldará a nova consciência, capaz de pôr um termo a toda violência”.

Para entender melhor aonde nos leva a visão da paz como um fenômeno externo ao homem, acompanhemos o seguinte raciocínio: onde não há ódio, não há guerra; nem haverá nunca; também não existirá conflito armado onde não houver armas; mas, se não tratarmos o interior dos homens, bastará que alguém forneça a munição, e o conflito explodirá tão ou mais forte que antes. O ódio habita o interior das pessoas, enquanto as armas são um sinal exterior. 


Não é assim. A paz é um fenômeno mais complexo, que exige a contribuição de outras ciências e de outros saberes para ser explicado. Ao afirmarmos isso, contudo, não estamos desmerecendo a enorme contribuição que as ciências sociais deram ao conhecimento das causas e do desenvolvimento da guerra e da paz. Ainda dentro do quadro de referenciais externos ao homem, podemos distinguir dois estados diferentes da paz:

terça-feira, 27 de maio de 2014

BURACO DA SOLIDÃO

BURACO DA SOLIDÃO.

sexta-feira, 9 de Setembro de 2011

Buraco da Solidão...

Reformulei, construi e aprendi de uma maneira mais estúpida o que era procurar algo no meio de um imenso infinito espaço. Fiz buracos e coloquei tijolos. Construí barreiras e criei lagos, pus de pé as arvores e plantei flores. Descobri dentro de mim uma imensidão de felicidade, a qual estava impedida de emergir devido a imensidão de tijolos que em mim construíam um muro. Podia ser o muro das lamentações, o muro do amor, mas era mais que isso. Era uma prisão em barro que nem as minhas pobres lágrimas podiam lá passar. Com força peguei num martelo e destruí o muro e com ele foram os cacos da minha felicidade. Com os pedaços do muro, foram também os pedaços do meu ser, pedi formas, amizades, mas acima de tudo perdi-me a mim. Quis regressar ao que era antes, mas não consegui-a. Procurei conquistar o meu coração, mas não consegui. Tudo aquilo era o reflexo ofusco do meu maior medo. A solidão. O romper do muro, fizera com que rompesse também que eu era. Já não havia cimento suficiente para voltar a erguer este muro e recuperar todos os seus pedaços. Estava com medo, porque este sentimento penetrou dentro de mim  e nunca mais me largou, criando assim uma ligação tenebrosa em mim e ele. O tempo ia passando e a minha força ia morrendo, as minhas entranhas sentimentais vinham a florescer dentro de mim. Já não sabia se sonhava, ou se ria, se gritava ou estava calado, se via ou fazia que via, só tinha uma certeza de que estava preso num buraco onde reinava a solidão, que tinha lágrimas congeladas dentro dos meu olhos, que as minhas mãos tremiam de medo e o meu corpo estava congelado de tanta solidão. Não desisti, o tempo pode ter passado, as lágrimas podem estar congeladas, o meu caminho pode-se ter desfeito, mas nunca perdi. Por isso voltei a reformular e a construir. Naveguei a fundo do buraco e foi pegando em cada pedaço e deles fiz uma escada. Construí novas memórias e dos pedaços encontrados construi uma caixa, que era tão forte que nem a maior cada a podia partir. Fiz cimento e colei-o dentro de mim, mas não foi de propósito, havia um objectivo que era prender as outras e pequenas recordações que estavam dentro de mim. Não foi este buraco que me fez tremer, mas sim aquele sentimento estúpido que me fez tremer, mas derrotei-o e construí um novo, a felicidade...

TRISTEZA SEM FIM

TRISTEZA SEM FIM.

Depressão... a tristeza sem fim

por Maria Isabel de Oliveira - marybelterapeuta@gmail.com

Não é raro ouvir das pessoas a frase “estou deprimido”. Qualquer pequena frustração ou tristeza passou a ser tomada como sinônimo desse mal de difícil erradicação (principalmente por sua complicada identificação).

Todos nós temos nossos dias nublados; por mais que faça sol ou seja feriadão prolongado, às vezes nuvens negras embaçam os olhos de nossa mente e coração. Aquele sentimento esquisito cuja resposta invariável é “não sei” tem um nome: Depressão. Mal moderno, desconhecido nos tempos de juventude de nossos bisavós, parece ter sido incorporado pela humanidade deste século como um arquétipo absolutamente normal.

A tristeza - própria da natureza humana - é igualmente inútil, mas com uma causa definida. Se alguém lhe dirige ofensas: se sua violeta predileta morre em plena floração: se seu bichano some; se você “leva o bolo” de uma pessoa querida, etc, é natural sentir-se triste. Mas aquela tristeza indefinida, de causa desconhecida, que parece se instalar para todo o sempre, que tira umas semanas de férias, mas depois volta com carga redobrada, sem aviso prévio, isso é depressão.

Em lugares de clima frio e de pouco sol, como nos países do hemisfério norte, as crises são mais constantes. Nessas regiões, outono e inverno, caracterizados pela ausência quase total de sol, causam distúrbios no humor das pessoas, já que o frio e a falta de luz intensa do sol parecem facilitar estados depressivos.

A questão mais incômoda no que se refere à depressão é a maneira de combatê-la, já que, geralmente, desconhecemos suas causas. Os sintomas, porém são facilmente detectáveis. Fisicamente um cansaço prolongado (injustificado ou, muitas vezes, resultante de insônia) é bastante comum nas pessoas deprimidas. A preguiça (do tipo “odeio segundas-feiras”) é característica. Também palpitações ou pressão no peito, tonturas, sudorese acentuada, dificuldades respiratórias, resfriados constantes, acidez estomacal e perturbações digestivas (o que está sendo difícil digerir na sua vida?). Perda de apetite (inclusive sexual) denota estados depressivos, além da letargia/ apatia constantes.

Entre os sintomas psicológicos mais comuns destacam-se momentos de profunda tristeza, choro compulsivo sem causa aparente, hostilidade/irritação (principalmente com aqueles que estão de “bem com a vida”), ansiedade desesperança, perda de afeição (dificuldade em dar e receber amor), vontade de morrer (que inclui tentativas de suicídio).

As causas, como já dissemos, são desconhecidas da pessoa que experimenta a depressão, mas se refletem em sua vida prática de várias maneiras. Essas pistas possibilitam identificar o mal com mais clareza, para que possamos diagnosticá-lo e enfrentá-lo. A falta de objetivos futuros ou colocação de metas inadequadas ao seu progresso pessoal, baixa auto-estima (a aparência descuidada é um ótimo sensor de estados depressivos, principalmente nas pessoas vaidosas), falta de realização na carreira, entre outros. Também nos pegamos fazendo comparações absurdas do nosso potencial em relação ao de outras pessoas (valorizamos apenas as qualidades dos outros e exageramos nossos defeitos, sem observar as fraquezas de terceiros).

É considerada normal a depressão pós-parto, comum à maioria das mulheres. Estando em contato íntimo e profundo com o bebê que cresce dentro dela, a mãe sente-se deprimida e “vazia” ao dar à luz. Na esfera profissional, muitas pessoas experimentam o mesmo vazio quando concluem um projeto. Observou-se que os grandes empreendedores mantêm a mente sempre aberta a novas e ousadas criações, projetando-se nos planos que estão por vir. Assim, com metas sempre delineadas à frente, jamais experimentam o esvaziamento típico da depressão pós-parto.

A sensação de frustração e conseqüente estado depressivo, paradoxalmente, acompanha os que, ao contrário, padecem de hiperatividade intelectual. Se os planos ficam só na esfera mental e nunca se realizam no mundo material, tornam-se assustadores fantasmas a entristecer o seu criador.

Quando alguém nos desaponta, também é comum cairmos em depressão. Esta é uma das armadilhas mais perigosas deste mal; aqui é útil lembrar que “ninguém é capaz de fazer você sentir-se desta ou daquela maneira”. Sentir-se, verbo reflexivo, só acontece dentro de você, com a sua permissão; há uma gama enorme de opções de sentimentos à sua escolha. Auxiliado pela razão e pela intuição, você, e ninguém mais, é capaz de decidir qual o estado adequado para o momento.

Os métodos mais conhecidos para tratar a depressão são a administração de medicamentos, a eletroterapia, a psicoterapia e as terapias naturais. O primeiro e mais antigo teve origem através dos curandeiros primitivos. Registros apontam que Hipócrates, há mais de 2 mil anos, prescrevia heléboro, erva medicinal de propriedades analgésicas, aos doentes de males emocionais; os chineses recorriam à efedrina; povos primitivos usavam o ópio, a mescalina e a semente de papoula para trazer euforia às pessoas em estados depressivos.

A partir de meados dos anos 50 e na década de 60, principalmente, as drogas antidepressivas ganharam impulso nos Estados Unidos. De lá para cá, desenvolveram-se vários tipos de drogas. A eletroterapia ou eletroconvulsoterapia, popularmente conhecida como eletrochoque, teve seu auge nos anos 40/50. Os principais efeitos colaterais registrados nos depressivos submetidos a esse tratamento foram dores de cabeça, confusão mental e perturbações de memória.

Embora apresentem resultados rapidamente, cerca de um mês após iniciado o tratamento, tanto a eletroterapia como a terapia por medicamentos têm se revelado eficientes apenas no combate aos sintomas da depressão, e não do mal em si.

A psicoterapia e as terapias naturais, mesmo mais caras e demoradas, na opinião dos especialistas é capaz de causar mudanças mais efetivas de comportamento e conseqüente eliminação dos estados depressivos. Alguns psiquiatras recomendam a combinação destas com uma das terapias anteriormente descritas, objetivando minimizar os males que a depressão causa enquanto não é totalmente eliminada.

Quando perceber que está entrando em depressão, mantenha a cabeça erguida e os olhos voltados para cima. Eu desafio qualquer pessoa a permanecer deprimida dirigindo o olhar e o pensamento para o alto. Não há depressão que resista a uma boa dose de alegria. Agite. Ainda que seja preciso um grande esforço, saia da “segurança” de sua caminha quente e exponha-se. Começe a caminhar ou a correr, faça um passeio, olhe nos olhos das outras pessoas, ande de bicicleta (se souber!!!). Escolha uma música de ritmo agitado e se ponha a dançar. Cultive a coragem e a vontade de viver. Busque ajuda terapêutica, converse com alguém, mantendo ativado o seu diálogo interno “O que quero evitar? Do que estou fugindo?”. Lembre-se de que o que está tentando evitar não desaparecerá até que o enfrente... Aventure-se!!!
Texto revisado por: Cris

INOCÊNCIA PERDIDA 2

INOCÊNCIA PERDIDA 2 

FOLHA - Por que essa alta incidência de massacres em escolas?
HAROLD SCHECHTER
- Não acho que seja uma preferência por escolas. São tipos diferentes de problemas: o garoto que atira no diretor tem um tipo de problema mental, provavelmente mais próximo a casos como o de Columbine -o padrão usual são jovens que se sentem humilhados e querem vingança. Nos dois outros casos, estamos de fato lidando com assassinos em massa suicidas. São, basicamente, doentes.
FOLHA - Que característica faz das escolas alvo preferencial?
SCHECHTER
- Elas são o que se chama "alvo de oportunidade". Se você procura abusar de meninas, um lugar para encontrá-las desprotegidas é a escola. No caso do menino, assim como em Columbine, a escola seria o foco da infelicidade. Os adultos apenas escolheram por causa da oportunidade. Acho que o caso mais recente parece um "crime com imitação" -quando há um crime sensacional e alguém logo em seguida faz algo semelhante.
FOLHA - E mais gente exigirá detectores de metais nas escolas.
SCHECHTER
- Certamente. Terá implicações ainda maiores.
FOLHA - Isso muda o significado cultural da escola. Em "Passatempos Selvagens", o sr. fala sobre como crescemos cercados por imagens de violência e como isso nos afeta. Qual será o impacto desses eventos?
SCHECHTER
- É difícil dizer se esses incidentes não são apenas uma aberração ou representam uma "tendência cultural". Muita gente começa automaticamente a culpar a mídia -videogames violentos, heavy metal. Isso é ridículo. O entretenimento popular sempre foi bastante violento. O de hoje não é mais ou menos violento.
A outra parte é que o entretenimento popular não pode ser culpado por crimes horrendos, e de certa forma essa tese é horrivelmente confirmada por esses dois últimos crimes, pois obviamente não há ligação entre filmes -ou o que quer seja- e as pessoas que cometeram esses crimes [um caminhoneiro e um desempregado].
FOLHA - O problema seria resolvido pela proibição das armas?
SCHECHTER
- Não acho que isso faça desaparecer a violência, mas é óbvio que um jovem perturbado irado com seus professores é diferente portando uma arma automática, em vez de um canivete. São as armas de fogo que tornam esses incidentes tão "fatais".
Nos anos 50, grande parte da programação do horário nobre era de violentos "westerns". O que se fazia era brincar com armas de brinquedo. Há uma histeria sobre a violência no entretenimento popular, que sempre existiu -nos anos 1950, havia aqueles convictos de que histórias em quadrinhos ou o rock and roll eram a causa da delinqüência juvenil.
FOLHA - Mas o herói não era em geral claramente identificável, enquanto hoje há os vilões-heróis?
SCHECHTER
- Vivemos em uma época diferente, menos inocente. É mais difícil aceitar heróis como aceitávamos. É uma época mais "cínica". Só que a cultura popular do passado sempre nos parece mais inocente que a do presente. A questão é o efeito sobre o espectador. Digo que o filme de caubói tem o mesmo efeito em mim que o videogame tem nas crianças de hoje: um jogo ou fantasia excitante que permite fingir que se é violento. Entretenimento popular existe para isso.



INOCÊNCIA PERDIDA

INOCÊNCIA PERDIDA.


A inocência perdida
Especialista em cultura popular diz que entretenimentos violentos não explicam atentados em escolas
ERNANE GUIMARÃES NETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Educadores e políticos dos EUA reagiram a incidentes envolvendo assassinato e escola -três em seis dias- retomando a discussão sobre condições de segurança nas instituições de ensino.
No último dia 27, um homem de 53 anos molestou sexualmente alunas do ensino médio de uma escola do Colorado, matou uma delas e se matou durante tiroteio com a polícia.
Na última segunda, um homem de 32 anos atirou em dez meninas de uma escola da Pensilvânia, também cometendo suicídio. Entre os dois incidentes, no dia 29, um estudante de 15 anos matou a tiros o diretor de sua escola no Wisconsin.
Segundo o especialista em crimes Harold Schechter, o debate nos EUA pode estar indo na direção errada. Professor de cultura popular na Universidade da Cidade de Nova York, ele defende em "Savage Pastimes" (Passatempos Selvagens, St.
Martin's Press) que o entretenimento popular sempre foi violento e sempre houve pessoas perturbadas. Disse que o problema hoje é simplesmente a facilidade, sem precedentes, de acesso a armas de fogo

quinta-feira, 22 de maio de 2014

POR QUE SER GRATO?

POR QUE SER GRATO?

  • Pelo sol que nos ilumina
  • Pela chuva.
  • Pelo frio.
  • A gratidão sempre nos dá a lembrança do bom amigo. Aquele (a) que vai envelhecendo ao nosso lado, nas lembranças conseguimos ver com os olhos do coração os momentos , engraçados, críticas,  a gratidão não quer dizer que somos  iguais, as diferenças a honestidade que nos uniram.
  • A gratidão é algo que se carrega no peito e isso nos fará sorrir suavemente e eleva a qualidade humana,
  • Há tanto a agradecer pelas pessoas que passaram  e que deixaram suas marcas indeléveis em meu caráter. As que passaram, mas permanecem em mim. A elas já agradeci. As que estão ao meu lado, tem o melhor de mim, sinceridade, confiança, e amor. A mesma gratidão das que já se foram.
  • E não poderia de deixar passar o meu melhor amigo Deus, por me confortar, sua paciência, e sentir a gostosa sensação da sua presença.  ( IVONE)

Por que ser grato Revista Vida Simples nº 136 - 01/10/2013

- O que você está fazendo?

Não era necessário que ela respondesse. Eu sabia o que ela estava fazendo. Estávamos tomando café da manhã, a mesa era farta, o sol entrava resplandecente pelas janelas, a vista de nosso apartamento é linda, nós dois estamos em perfeita saúde e o dia que começava prometia muitas emoções. Ela olhava para fora, e eu sabia que estava agradecendo. Mesmo assim, ela sorriu e me disse, confirmando minha certeza. Gosto disso. A gratidão como filosofia de vida nos faz melhores.

Minha primeira tarefa do dia seria a de escrever meu artigo para a Vida Simples, e eu agradeci pela inspiração. E resolvi escrever sobre gratidão. Com certeza não seria um artigo muito original, pois este assunto já rendeu muitos textos, escritos por pensadores muito melhores que eu. Esopo, por exemplo, explicou que “A gratidão é uma virtude das almas nobres”. Já, Sêneca, mais pragmático, disse que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação de sua dívida”. Flaubert queixou-se de alguém dizendo que “Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”.

Eu não seria nem justo nem coerente se não fosse grato a esses e outros cérebros brilhantes que alinham meus pensamentos e orientam meus escritos. Obrigado, pessoal, valeu!

O café da manhã terminou e começou o dia. E começou melhor porque sentíamos, ambos, uma gratidão antecipada pelo dia que tínhamos pela frente. Mas a maior gratidão que eu sentia não era pelo café, nem pela paz, nem pelas perspectivas, pois o que eu queria mesmo é que nada disso faltasse a ninguém. A gratidão principal vinha da percepção de eu era capaz de sentir gratidão. E isso me fazia bem.

Gratidão – atitude ou sentimento?

Isso também me fez lembrar de um grande amigo, o Portugal. Eu o conheci quando trabalhei na Universidade do Professor lá no Paraná, e ele era um dos meus mentores. Já avançado em idade, ele tinha sido militar, diplomata e empreendedor, mas em seu peito sempre bateu um coração de educador, então abraçou com força a oportunidade de conduzir a capacitação de professores em um dos projetos mais belos que já se fizeram nessa área.

Até que um dia recebo o telefonema que ninguém gosta nem está preparado para receber. Portugal havia sofrido o derrame que o deixaria limitado por cerca de quatro anos, até o fim. Ele sempre foi extremamente cuidadoso com sua saúde, caminhava com vigor por uma hora de manhã, alimentava-se bem e fazia seus exames regularmente. E tinha aquela alegria natural que também protege a saúde. Mesmo assim, teve um AVC. Coisas da idade, explicou o médico.

Ele já nos deixou, mas não sem antes nos dar mais uma lição de força. Durante o tempo que viveu depois do derrame, ele não  podia caminhar, falava com alguma dificuldade e dependia de ajuda de sua incansável Verinha para as necessidades mais básicas. Mesmo assim, quando o visitava ele me falava de projetos para o futuro, livros que estava lendo, novas ideias, trabalhos que precisavam ser concluídos. Começou a estudar italiano e a frequentar um centro de equoterapia. Coisas do Portugal. À saída, ele costumava dizer: “Tenha gratidão. Sempre”. E sorria um sorriso menor, mas mais verdadeiro.

Foi em uma conversa com ele que eu comecei a entender uma diferença sutil, mas fundamental, entre agradecimento e gratidão. Agradecer é um ato, tem a ver com educação, reconhecimento e justiça. Gratidão é um sentimento, é algo que se carrega no peito, que pertence à pessoa como um valor, uma filosofia de vida. Um agradecimento sincero eleva a qualidade das relações entre as pessoas. Gratidão faz mais que isso. Eleva a qualidade humana de que a tem.

Nada mais justo do que reconhecer o mérito de um ato bom. Agradecer um favor, um apoio, uma gentileza, uma orientação ou uma oportunidade não é apenas uma demonstração de reconhecimento e de educação. É um tributo à justiça.

Eu mesmo tenho que agradecer muito a muitas pessoas por muitas coisas. A meus pais pelos valores que me incutiram. A minha irmã que me incentivou à leitura. Aos professores que me ensinaram, aos médicos que me curaram, aos chefes que me puseram na linha. Aos amigos, às namoradas, aos colegas, aos vizinhos. Tenho muito o que agradecer aos meus filhos e à minha mulher, e estou certo de que ainda terei muitos motivos para agradecer a ela, e a muitos.

Há tanto a agradecer a tanta gente que passou por minha vida e que deixou marcas boas e indeléveis em meu caráter. Essas pessoas passaram, mas permanecem em mim. E sinto gratidão por isso. A elas eu já agradeci, educado que sou, mas a gratidão, aquele sentimento que aquece o peito, este continua comigo.

Agradecer faz bem

Sim, logo aprendi que agradecer é justo, melhora as relações e abre espaço para novos favores. É chato fazer um favor, ser gentil, prestar uma assistência para alguém e não perceber o menor traço de agradecimento. Agradecer é polido, simpático, e prepara o terreno para uma convivência mais agradável e profícua. Lembro de ter aprendido que as três palavras mágicas são “por favor”, “desculpe” e “obrigado”. Teriam sido elas que criaram a civilização.

O fato que me custou mais tempo de percepção, foi que a gratidão e o  agradecimento nem sempre estão juntos. Como já foi dito, o ato de agradecer é nobre e polido, desde que tenha sido gestado no útero da gratidão. Senão é falso e interesseiro. Já a gratidão, esta é algo superior, que pertence ao espírito. Como é bom ser agradecido pela vida com todas as suas possibilidades. Como é necessário ser agradecido até às limitações e dificuldades, pois estas, não só nos melhoram, como nos ajudam a perceber o valor das possibilidades e oportunidades. “Não existiria luz se não fosse a escuridão”, cantou Lulu santos.

Sem fazer nenhum proselitismo, eu afirmo que que sinto imensa gratidão até por todas as crises que tive na vida (e quem não as teve?). No meio do furacão eu me revoltava com a vida, mas depois, pensando bem, eu sempre sai melhor de uma crise do que era quando nela entrei. Não há como pagar o ensinamento que uma crise, de qualquer natureza – emocional, financeira, existencial –, é capaz de incutir em nossa mente e em nossa alma. Sim, há muitas coisas que não há como pagar, a não ser com gratidão.

Quem sente gratidão tem necessidade de agradecer e às vezes não sabe a quem. Em nossa cultura fomos educados a agradecer a Deus, como nosso criador e provedor, tanto é que “graças a Deus” é uma expressão corriqueira, ancorada no arquétipo popular. Quem nunca disse “graças a Deus”?  Essa expressão é tão forte que às vezes as pessoas se esquecem de agradecer a quem as ajudou em termos práticos: o médico, o bombeiro, o amigo, o policial. Bem, sempre podemos alegar que graças a Deus eles estavam por perto. Faz sentido.

Agradecer a Deus faz bem, conforta, alegra e dá uma sensação gostosa de estar acompanhado. Mas às vezes pensamos: “Porque Ele não ajudou aos demais? Porque só a mim? Ou porque só não a mim?”. Mas logo afastamos essa pergunta, por um simples motivo. Ela não tem resposta. Somos muito pequenos para julgar, ou mesmo compreender, todas as intrincadas artimanhas do destino.
Gratidão a quem? A Deus? À vida? Não importa. O importante é a gratidão. Ela engrandece quem a sente e dará um jeito de atingir seu alvo. Sugestão: quando achar que não tem o que ou a quem agradecer, encontre e escute a chilena Violeta Parra: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto…”. De preferência na voz da argentina Mercedes Sosa. Você vai agradecer a dica.

Esta é uma edição de aniversário da Vida Simples. Onze anos, quem diria! E eu confesso que sinto uma imensa gratidão aqui no peito por esse convívio maravilhoso de todos os meses. E sinto vontade de agradecer, também. Agradecer aos editores, desde o primeiro, que me convidou, o jornalista Otávio Rodrigues, até nossa querida Aninha Holanda, que atualmente é a responsável por cobrar meus textos.

E, claro, agradecer aos nossos leitores, que são a razão da existência da revista. Muito grato, turma! Mas, veja só: às vezes recebo e-mails de leitores, ou encontro com alguns em eventos ou locais públicos e muitos me agradecem. “Eu estava precisando daquelas palavras”. “Parece que você escreveu para mim”. “Obrigado!”.

Agradecer faz parte. Mas o importante não é isso. Importante é o fato de que todos carregamos em nós o agradecimento. E é ele que nos torna humanos de verdade.

Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril. Todos os direitos reservados. Visite o site da revista: www.revistavidasimples.com.br

- See more at: http://eugeniomussak.com.br/gratidao/#sthash.tpnYXO03.dpuf

Por que ser grato Revista Vida Simples nº 136 - 01/10/2013

- O que você está fazendo?

Não era necessário que ela respondesse. Eu sabia o que ela estava fazendo. Estávamos tomando café da manhã, a mesa era farta, o sol entrava resplandecente pelas janelas, a vista de nosso apartamento é linda, nós dois estamos em perfeita saúde e o dia que começava prometia muitas emoções. Ela olhava para fora, e eu sabia que estava agradecendo. Mesmo assim, ela sorriu e me disse, confirmando minha certeza. Gosto disso. A gratidão como filosofia de vida nos faz melhores.

Minha primeira tarefa do dia seria a de escrever meu artigo para a Vida Simples, e eu agradeci pela inspiração. E resolvi escrever sobre gratidão. Com certeza não seria um artigo muito original, pois este assunto já rendeu muitos textos, escritos por pensadores muito melhores que eu. Esopo, por exemplo, explicou que “A gratidão é uma virtude das almas nobres”. Já, Sêneca, mais pragmático, disse que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação de sua dívida”. Flaubert queixou-se de alguém dizendo que “Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”.

Eu não seria nem justo nem coerente se não fosse grato a esses e outros cérebros brilhantes que alinham meus pensamentos e orientam meus escritos. Obrigado, pessoal, valeu!

O café da manhã terminou e começou o dia. E começou melhor porque sentíamos, ambos, uma gratidão antecipada pelo dia que tínhamos pela frente. Mas a maior gratidão que eu sentia não era pelo café, nem pela paz, nem pelas perspectivas, pois o que eu queria mesmo é que nada disso faltasse a ninguém. A gratidão principal vinha da percepção de eu era capaz de sentir gratidão. E isso me fazia bem.

Gratidão – atitude ou sentimento?

Isso também me fez lembrar de um grande amigo, o Portugal. Eu o conheci quando trabalhei na Universidade do Professor lá no Paraná, e ele era um dos meus mentores. Já avançado em idade, ele tinha sido militar, diplomata e empreendedor, mas em seu peito sempre bateu um coração de educador, então abraçou com força a oportunidade de conduzir a capacitação de professores em um dos projetos mais belos que já se fizeram nessa área.

Até que um dia recebo o telefonema que ninguém gosta nem está preparado para receber. Portugal havia sofrido o derrame que o deixaria limitado por cerca de quatro anos, até o fim. Ele sempre foi extremamente cuidadoso com sua saúde, caminhava com vigor por uma hora de manhã, alimentava-se bem e fazia seus exames regularmente. E tinha aquela alegria natural que também protege a saúde. Mesmo assim, teve um AVC. Coisas da idade, explicou o médico.

Ele já nos deixou, mas não sem antes nos dar mais uma lição de força. Durante o tempo que viveu depois do derrame, ele não  podia caminhar, falava com alguma dificuldade e dependia de ajuda de sua incansável Verinha para as necessidades mais básicas. Mesmo assim, quando o visitava ele me falava de projetos para o futuro, livros que estava lendo, novas ideias, trabalhos que precisavam ser concluídos. Começou a estudar italiano e a frequentar um centro de equoterapia. Coisas do Portugal. À saída, ele costumava dizer: “Tenha gratidão. Sempre”. E sorria um sorriso menor, mas mais verdadeiro.

Foi em uma conversa com ele que eu comecei a entender uma diferença sutil, mas fundamental, entre agradecimento e gratidão. Agradecer é um ato, tem a ver com educação, reconhecimento e justiça. Gratidão é um sentimento, é algo que se carrega no peito, que pertence à pessoa como um valor, uma filosofia de vida. Um agradecimento sincero eleva a qualidade das relações entre as pessoas. Gratidão faz mais que isso. Eleva a qualidade humana de que a tem.

Nada mais justo do que reconhecer o mérito de um ato bom. Agradecer um favor, um apoio, uma gentileza, uma orientação ou uma oportunidade não é apenas uma demonstração de reconhecimento e de educação. É um tributo à justiça.

Eu mesmo tenho que agradecer muito a muitas pessoas por muitas coisas. A meus pais pelos valores que me incutiram. A minha irmã que me incentivou à leitura. Aos professores que me ensinaram, aos médicos que me curaram, aos chefes que me puseram na linha. Aos amigos, às namoradas, aos colegas, aos vizinhos. Tenho muito o que agradecer aos meus filhos e à minha mulher, e estou certo de que ainda terei muitos motivos para agradecer a ela, e a muitos.

Há tanto a agradecer a tanta gente que passou por minha vida e que deixou marcas boas e indeléveis em meu caráter. Essas pessoas passaram, mas permanecem em mim. E sinto gratidão por isso. A elas eu já agradeci, educado que sou, mas a gratidão, aquele sentimento que aquece o peito, este continua comigo.

Agradecer faz bem

Sim, logo aprendi que agradecer é justo, melhora as relações e abre espaço para novos favores. É chato fazer um favor, ser gentil, prestar uma assistência para alguém e não perceber o menor traço de agradecimento. Agradecer é polido, simpático, e prepara o terreno para uma convivência mais agradável e profícua. Lembro de ter aprendido que as três palavras mágicas são “por favor”, “desculpe” e “obrigado”. Teriam sido elas que criaram a civilização.

O fato que me custou mais tempo de percepção, foi que a gratidão e o  agradecimento nem sempre estão juntos. Como já foi dito, o ato de agradecer é nobre e polido, desde que tenha sido gestado no útero da gratidão. Senão é falso e interesseiro. Já a gratidão, esta é algo superior, que pertence ao espírito. Como é bom ser agradecido pela vida com todas as suas possibilidades. Como é necessário ser agradecido até às limitações e dificuldades, pois estas, não só nos melhoram, como nos ajudam a perceber o valor das possibilidades e oportunidades. “Não existiria luz se não fosse a escuridão”, cantou Lulu santos.

Sem fazer nenhum proselitismo, eu afirmo que que sinto imensa gratidão até por todas as crises que tive na vida (e quem não as teve?). No meio do furacão eu me revoltava com a vida, mas depois, pensando bem, eu sempre sai melhor de uma crise do que era quando nela entrei. Não há como pagar o ensinamento que uma crise, de qualquer natureza – emocional, financeira, existencial –, é capaz de incutir em nossa mente e em nossa alma. Sim, há muitas coisas que não há como pagar, a não ser com gratidão.

Quem sente gratidão tem necessidade de agradecer e às vezes não sabe a quem. Em nossa cultura fomos educados a agradecer a Deus, como nosso criador e provedor, tanto é que “graças a Deus” é uma expressão corriqueira, ancorada no arquétipo popular. Quem nunca disse “graças a Deus”?  Essa expressão é tão forte que às vezes as pessoas se esquecem de agradecer a quem as ajudou em termos práticos: o médico, o bombeiro, o amigo, o policial. Bem, sempre podemos alegar que graças a Deus eles estavam por perto. Faz sentido.

Agradecer a Deus faz bem, conforta, alegra e dá uma sensação gostosa de estar acompanhado. Mas às vezes pensamos: “Porque Ele não ajudou aos demais? Porque só a mim? Ou porque só não a mim?”. Mas logo afastamos essa pergunta, por um simples motivo. Ela não tem resposta. Somos muito pequenos para julgar, ou mesmo compreender, todas as intrincadas artimanhas do destino.
Gratidão a quem? A Deus? À vida? Não importa. O importante é a gratidão. Ela engrandece quem a sente e dará um jeito de atingir seu alvo. Sugestão: quando achar que não tem o que ou a quem agradecer, encontre e escute a chilena Violeta Parra: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto…”. De preferência na voz da argentina Mercedes Sosa. Você vai agradecer a dica.

Esta é uma edição de aniversário da Vida Simples. Onze anos, quem diria! E eu confesso que sinto uma imensa gratidão aqui no peito por esse convívio maravilhoso de todos os meses. E sinto vontade de agradecer, também. Agradecer aos editores, desde o primeiro, que me convidou, o jornalista Otávio Rodrigues, até nossa querida Aninha Holanda, que atualmente é a responsável por cobrar meus textos.

E, claro, agradecer aos nossos leitores, que são a razão da existência da revista. Muito grato, turma! Mas, veja só: às vezes recebo e-mails de leitores, ou encontro com alguns em eventos ou locais públicos e muitos me agradecem. “Eu estava precisando daquelas palavras”. “Parece que você escreveu para mim”. “Obrigado!”.

Agradecer faz parte. Mas o importante não é isso. Importante é o fato de que todos carregamos em nós o agradecimento. E é ele que nos torna humanos de verdade.

Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril. Todos os direitos reservados. Visite o site da revista: www.revistavidasimples.com.br
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Por que ser grato Revista Vida Simples nº 136 - 01/10/2013

- O que você está fazendo?

Não era necessário que ela respondesse. Eu sabia o que ela estava fazendo. Estávamos tomando café da manhã, a mesa era farta, o sol entrava resplandecente pelas janelas, a vista de nosso apartamento é linda, nós dois estamos em perfeita saúde e o dia que começava prometia muitas emoções. Ela olhava para fora, e eu sabia que estava agradecendo. Mesmo assim, ela sorriu e me disse, confirmando minha certeza. Gosto disso. A gratidão como filosofia de vida nos faz melhores.

Minha primeira tarefa do dia seria a de escrever meu artigo para a Vida Simples, e eu agradeci pela inspiração. E resolvi escrever sobre gratidão. Com certeza não seria um artigo muito original, pois este assunto já rendeu muitos textos, escritos por pensadores muito melhores que eu. Esopo, por exemplo, explicou que “A gratidão é uma virtude das almas nobres”. Já, Sêneca, mais pragmático, disse que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação de sua dívida”. Flaubert queixou-se de alguém dizendo que “Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”.

Eu não seria nem justo nem coerente se não fosse grato a esses e outros cérebros brilhantes que alinham meus pensamentos e orientam meus escritos. Obrigado, pessoal, valeu!

O café da manhã terminou e começou o dia. E começou melhor porque sentíamos, ambos, uma gratidão antecipada pelo dia que tínhamos pela frente. Mas a maior gratidão que eu sentia não era pelo café, nem pela paz, nem pelas perspectivas, pois o que eu queria mesmo é que nada disso faltasse a ninguém. A gratidão principal vinha da percepção de eu era capaz de sentir gratidão. E isso me fazia bem.

Gratidão – atitude ou sentimento?

Isso também me fez lembrar de um grande amigo, o Portugal. Eu o conheci quando trabalhei na Universidade do Professor lá no Paraná, e ele era um dos meus mentores. Já avançado em idade, ele tinha sido militar, diplomata e empreendedor, mas em seu peito sempre bateu um coração de educador, então abraçou com força a oportunidade de conduzir a capacitação de professores em um dos projetos mais belos que já se fizeram nessa área.

Até que um dia recebo o telefonema que ninguém gosta nem está preparado para receber. Portugal havia sofrido o derrame que o deixaria limitado por cerca de quatro anos, até o fim. Ele sempre foi extremamente cuidadoso com sua saúde, caminhava com vigor por uma hora de manhã, alimentava-se bem e fazia seus exames regularmente. E tinha aquela alegria natural que também protege a saúde. Mesmo assim, teve um AVC. Coisas da idade, explicou o médico.

Ele já nos deixou, mas não sem antes nos dar mais uma lição de força. Durante o tempo que viveu depois do derrame, ele não  podia caminhar, falava com alguma dificuldade e dependia de ajuda de sua incansável Verinha para as necessidades mais básicas. Mesmo assim, quando o visitava ele me falava de projetos para o futuro, livros que estava lendo, novas ideias, trabalhos que precisavam ser concluídos. Começou a estudar italiano e a frequentar um centro de equoterapia. Coisas do Portugal. À saída, ele costumava dizer: “Tenha gratidão. Sempre”. E sorria um sorriso menor, mas mais verdadeiro.

Foi em uma conversa com ele que eu comecei a entender uma diferença sutil, mas fundamental, entre agradecimento e gratidão. Agradecer é um ato, tem a ver com educação, reconhecimento e justiça. Gratidão é um sentimento, é algo que se carrega no peito, que pertence à pessoa como um valor, uma filosofia de vida. Um agradecimento sincero eleva a qualidade das relações entre as pessoas. Gratidão faz mais que isso. Eleva a qualidade humana de que a tem.

Nada mais justo do que reconhecer o mérito de um ato bom. Agradecer um favor, um apoio, uma gentileza, uma orientação ou uma oportunidade não é apenas uma demonstração de reconhecimento e de educação. É um tributo à justiça.

Eu mesmo tenho que agradecer muito a muitas pessoas por muitas coisas. A meus pais pelos valores que me incutiram. A minha irmã que me incentivou à leitura. Aos professores que me ensinaram, aos médicos que me curaram, aos chefes que me puseram na linha. Aos amigos, às namoradas, aos colegas, aos vizinhos. Tenho muito o que agradecer aos meus filhos e à minha mulher, e estou certo de que ainda terei muitos motivos para agradecer a ela, e a muitos.

Há tanto a agradecer a tanta gente que passou por minha vida e que deixou marcas boas e indeléveis em meu caráter. Essas pessoas passaram, mas permanecem em mim. E sinto gratidão por isso. A elas eu já agradeci, educado que sou, mas a gratidão, aquele sentimento que aquece o peito, este continua comigo.

Agradecer faz bem

Sim, logo aprendi que agradecer é justo, melhora as relações e abre espaço para novos favores. É chato fazer um favor, ser gentil, prestar uma assistência para alguém e não perceber o menor traço de agradecimento. Agradecer é polido, simpático, e prepara o terreno para uma convivência mais agradável e profícua. Lembro de ter aprendido que as três palavras mágicas são “por favor”, “desculpe” e “obrigado”. Teriam sido elas que criaram a civilização.

O fato que me custou mais tempo de percepção, foi que a gratidão e o  agradecimento nem sempre estão juntos. Como já foi dito, o ato de agradecer é nobre e polido, desde que tenha sido gestado no útero da gratidão. Senão é falso e interesseiro. Já a gratidão, esta é algo superior, que pertence ao espírito. Como é bom ser agradecido pela vida com todas as suas possibilidades. Como é necessário ser agradecido até às limitações e dificuldades, pois estas, não só nos melhoram, como nos ajudam a perceber o valor das possibilidades e oportunidades. “Não existiria luz se não fosse a escuridão”, cantou Lulu santos.

Sem fazer nenhum proselitismo, eu afirmo que que sinto imensa gratidão até por todas as crises que tive na vida (e quem não as teve?). No meio do furacão eu me revoltava com a vida, mas depois, pensando bem, eu sempre sai melhor de uma crise do que era quando nela entrei. Não há como pagar o ensinamento que uma crise, de qualquer natureza – emocional, financeira, existencial –, é capaz de incutir em nossa mente e em nossa alma. Sim, há muitas coisas que não há como pagar, a não ser com gratidão.

Quem sente gratidão tem necessidade de agradecer e às vezes não sabe a quem. Em nossa cultura fomos educados a agradecer a Deus, como nosso criador e provedor, tanto é que “graças a Deus” é uma expressão corriqueira, ancorada no arquétipo popular. Quem nunca disse “graças a Deus”?  Essa expressão é tão forte que às vezes as pessoas se esquecem de agradecer a quem as ajudou em termos práticos: o médico, o bombeiro, o amigo, o policial. Bem, sempre podemos alegar que graças a Deus eles estavam por perto. Faz sentido.

Agradecer a Deus faz bem, conforta, alegra e dá uma sensação gostosa de estar acompanhado. Mas às vezes pensamos: “Porque Ele não ajudou aos demais? Porque só a mim? Ou porque só não a mim?”. Mas logo afastamos essa pergunta, por um simples motivo. Ela não tem resposta. Somos muito pequenos para julgar, ou mesmo compreender, todas as intrincadas artimanhas do destino.
Gratidão a quem? A Deus? À vida? Não importa. O importante é a gratidão. Ela engrandece quem a sente e dará um jeito de atingir seu alvo. Sugestão: quando achar que não tem o que ou a quem agradecer, encontre e escute a chilena Violeta Parra: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto…”. De preferência na voz da argentina Mercedes Sosa. Você vai agradecer a dica.

Esta é uma edição de aniversário da Vida Simples. Onze anos, quem diria! E eu confesso que sinto uma imensa gratidão aqui no peito por esse convívio maravilhoso de todos os meses. E sinto vontade de agradecer, também. Agradecer aos editores, desde o primeiro, que me convidou, o jornalista Otávio Rodrigues, até nossa querida Aninha Holanda, que atualmente é a responsável por cobrar meus textos.

E, claro, agradecer aos nossos leitores, que são a razão da existência da revista. Muito grato, turma! Mas, veja só: às vezes recebo e-mails de leitores, ou encontro com alguns em eventos ou locais públicos e muitos me agradecem. “Eu estava precisando daquelas palavras”. “Parece que você escreveu para mim”. “Obrigado!”.

Agradecer faz parte. Mas o importante não é isso. Importante é o fato de que todos carregamos em nós o agradecimento. E é ele que nos torna humanos de verdade.

Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril. Todos os direitos reservados. Visite o site da revista: www.revistavidasimples.com.br
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Por que ser grato Revista Vida Simples nº 136 - 01/10/2013

- O que você está fazendo?

Não era necessário que ela respondesse. Eu sabia o que ela estava fazendo. Estávamos tomando café da manhã, a mesa era farta, o sol entrava resplandecente pelas janelas, a vista de nosso apartamento é linda, nós dois estamos em perfeita saúde e o dia que começava prometia muitas emoções. Ela olhava para fora, e eu sabia que estava agradecendo. Mesmo assim, ela sorriu e me disse, confirmando minha certeza. Gosto disso. A gratidão como filosofia de vida nos faz melhores.

Minha primeira tarefa do dia seria a de escrever meu artigo para a Vida Simples, e eu agradeci pela inspiração. E resolvi escrever sobre gratidão. Com certeza não seria um artigo muito original, pois este assunto já rendeu muitos textos, escritos por pensadores muito melhores que eu. Esopo, por exemplo, explicou que “A gratidão é uma virtude das almas nobres”. Já, Sêneca, mais pragmático, disse que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação de sua dívida”. Flaubert queixou-se de alguém dizendo que “Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”.

Eu não seria nem justo nem coerente se não fosse grato a esses e outros cérebros brilhantes que alinham meus pensamentos e orientam meus escritos. Obrigado, pessoal, valeu!

O café da manhã terminou e começou o dia. E começou melhor porque sentíamos, ambos, uma gratidão antecipada pelo dia que tínhamos pela frente. Mas a maior gratidão que eu sentia não era pelo café, nem pela paz, nem pelas perspectivas, pois o que eu queria mesmo é que nada disso faltasse a ninguém. A gratidão principal vinha da percepção de eu era capaz de sentir gratidão. E isso me fazia bem.

Gratidão – atitude ou sentimento?

Isso também me fez lembrar de um grande amigo, o Portugal. Eu o conheci quando trabalhei na Universidade do Professor lá no Paraná, e ele era um dos meus mentores. Já avançado em idade, ele tinha sido militar, diplomata e empreendedor, mas em seu peito sempre bateu um coração de educador, então abraçou com força a oportunidade de conduzir a capacitação de professores em um dos projetos mais belos que já se fizeram nessa área.

Até que um dia recebo o telefonema que ninguém gosta nem está preparado para receber. Portugal havia sofrido o derrame que o deixaria limitado por cerca de quatro anos, até o fim. Ele sempre foi extremamente cuidadoso com sua saúde, caminhava com vigor por uma hora de manhã, alimentava-se bem e fazia seus exames regularmente. E tinha aquela alegria natural que também protege a saúde. Mesmo assim, teve um AVC. Coisas da idade, explicou o médico.

Ele já nos deixou, mas não sem antes nos dar mais uma lição de força. Durante o tempo que viveu depois do derrame, ele não  podia caminhar, falava com alguma dificuldade e dependia de ajuda de sua incansável Verinha para as necessidades mais básicas. Mesmo assim, quando o visitava ele me falava de projetos para o futuro, livros que estava lendo, novas ideias, trabalhos que precisavam ser concluídos. Começou a estudar italiano e a frequentar um centro de equoterapia. Coisas do Portugal. À saída, ele costumava dizer: “Tenha gratidão. Sempre”. E sorria um sorriso menor, mas mais verdadeiro.

Foi em uma conversa com ele que eu comecei a entender uma diferença sutil, mas fundamental, entre agradecimento e gratidão. Agradecer é um ato, tem a ver com educação, reconhecimento e justiça. Gratidão é um sentimento, é algo que se carrega no peito, que pertence à pessoa como um valor, uma filosofia de vida. Um agradecimento sincero eleva a qualidade das relações entre as pessoas. Gratidão faz mais que isso. Eleva a qualidade humana de que a tem.

Nada mais justo do que reconhecer o mérito de um ato bom. Agradecer um favor, um apoio, uma gentileza, uma orientação ou uma oportunidade não é apenas uma demonstração de reconhecimento e de educação. É um tributo à justiça.

Eu mesmo tenho que agradecer muito a muitas pessoas por muitas coisas. A meus pais pelos valores que me incutiram. A minha irmã que me incentivou à leitura. Aos professores que me ensinaram, aos médicos que me curaram, aos chefes que me puseram na linha. Aos amigos, às namoradas, aos colegas, aos vizinhos. Tenho muito o que agradecer aos meus filhos e à minha mulher, e estou certo de que ainda terei muitos motivos para agradecer a ela, e a muitos.

Há tanto a agradecer a tanta gente que passou por minha vida e que deixou marcas boas e indeléveis em meu caráter. Essas pessoas passaram, mas permanecem em mim. E sinto gratidão por isso. A elas eu já agradeci, educado que sou, mas a gratidão, aquele sentimento que aquece o peito, este continua comigo.

Agradecer faz bem

Sim, logo aprendi que agradecer é justo, melhora as relações e abre espaço para novos favores. É chato fazer um favor, ser gentil, prestar uma assistência para alguém e não perceber o menor traço de agradecimento. Agradecer é polido, simpático, e prepara o terreno para uma convivência mais agradável e profícua. Lembro de ter aprendido que as três palavras mágicas são “por favor”, “desculpe” e “obrigado”. Teriam sido elas que criaram a civilização.

O fato que me custou mais tempo de percepção, foi que a gratidão e o  agradecimento nem sempre estão juntos. Como já foi dito, o ato de agradecer é nobre e polido, desde que tenha sido gestado no útero da gratidão. Senão é falso e interesseiro. Já a gratidão, esta é algo superior, que pertence ao espírito. Como é bom ser agradecido pela vida com todas as suas possibilidades. Como é necessário ser agradecido até às limitações e dificuldades, pois estas, não só nos melhoram, como nos ajudam a perceber o valor das possibilidades e oportunidades. “Não existiria luz se não fosse a escuridão”, cantou Lulu santos.

Sem fazer nenhum proselitismo, eu afirmo que que sinto imensa gratidão até por todas as crises que tive na vida (e quem não as teve?). No meio do furacão eu me revoltava com a vida, mas depois, pensando bem, eu sempre sai melhor de uma crise do que era quando nela entrei. Não há como pagar o ensinamento que uma crise, de qualquer natureza – emocional, financeira, existencial –, é capaz de incutir em nossa mente e em nossa alma. Sim, há muitas coisas que não há como pagar, a não ser com gratidão.

Quem sente gratidão tem necessidade de agradecer e às vezes não sabe a quem. Em nossa cultura fomos educados a agradecer a Deus, como nosso criador e provedor, tanto é que “graças a Deus” é uma expressão corriqueira, ancorada no arquétipo popular. Quem nunca disse “graças a Deus”?  Essa expressão é tão forte que às vezes as pessoas se esquecem de agradecer a quem as ajudou em termos práticos: o médico, o bombeiro, o amigo, o policial. Bem, sempre podemos alegar que graças a Deus eles estavam por perto. Faz sentido.

Agradecer a Deus faz bem, conforta, alegra e dá uma sensação gostosa de estar acompanhado. Mas às vezes pensamos: “Porque Ele não ajudou aos demais? Porque só a mim? Ou porque só não a mim?”. Mas logo afastamos essa pergunta, por um simples motivo. Ela não tem resposta. Somos muito pequenos para julgar, ou mesmo compreender, todas as intrincadas artimanhas do destino.
Gratidão a quem? A Deus? À vida? Não importa. O importante é a gratidão. Ela engrandece quem a sente e dará um jeito de atingir seu alvo. Sugestão: quando achar que não tem o que ou a quem agradecer, encontre e escute a chilena Violeta Parra: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto…”. De preferência na voz da argentina Mercedes Sosa. Você vai agradecer a dica.

Esta é uma edição de aniversário da Vida Simples. Onze anos, quem diria! E eu confesso que sinto uma imensa gratidão aqui no peito por esse convívio maravilhoso de todos os meses. E sinto vontade de agradecer, também. Agradecer aos editores, desde o primeiro, que me convidou, o jornalista Otávio Rodrigues, até nossa querida Aninha Holanda, que atualmente é a responsável por cobrar meus textos.

E, claro, agradecer aos nossos leitores, que são a razão da existência da revista. Muito grato, turma! Mas, veja só: às vezes recebo e-mails de leitores, ou encontro com alguns em eventos ou locais públicos e muitos me agradecem. “Eu estava precisando daquelas palavras”. “Parece que você escreveu para mim”. “Obrigado!”.

Agradecer faz parte. Mas o importante não é isso. Importante é o fato de que todos carregamos em nós o agradecimento. E é ele que nos torna humanos de verdade.

Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril. Todos os direitos reservados. Visite o site da revista: www.revistavidasimples.com.br
- See more at: http://eugeniomussak.com.br/gratidao/#sthash.tpnYXO03.dpuf

Por que ser grato Revista Vida Simples nº 136 - 01/10/2013

- O que você está fazendo?

Não era necessário que ela respondesse. Eu sabia o que ela estava fazendo. Estávamos tomando café da manhã, a mesa era farta, o sol entrava resplandecente pelas janelas, a vista de nosso apartamento é linda, nós dois estamos em perfeita saúde e o dia que começava prometia muitas emoções. Ela olhava para fora, e eu sabia que estava agradecendo. Mesmo assim, ela sorriu e me disse, confirmando minha certeza. Gosto disso. A gratidão como filosofia de vida nos faz melhores.

Minha primeira tarefa do dia seria a de escrever meu artigo para a Vida Simples, e eu agradeci pela inspiração. E resolvi escrever sobre gratidão. Com certeza não seria um artigo muito original, pois este assunto já rendeu muitos textos, escritos por pensadores muito melhores que eu. Esopo, por exemplo, explicou que “A gratidão é uma virtude das almas nobres”. Já, Sêneca, mais pragmático, disse que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação de sua dívida”. Flaubert queixou-se de alguém dizendo que “Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”.

Eu não seria nem justo nem coerente se não fosse grato a esses e outros cérebros brilhantes que alinham meus pensamentos e orientam meus escritos. Obrigado, pessoal, valeu!

O café da manhã terminou e começou o dia. E começou melhor porque sentíamos, ambos, uma gratidão antecipada pelo dia que tínhamos pela frente. Mas a maior gratidão que eu sentia não era pelo café, nem pela paz, nem pelas perspectivas, pois o que eu queria mesmo é que nada disso faltasse a ninguém. A gratidão principal vinha da percepção de eu era capaz de sentir gratidão. E isso me fazia bem.

Gratidão – atitude ou sentimento?

Isso também me fez lembrar de um grande amigo, o Portugal. Eu o conheci quando trabalhei na Universidade do Professor lá no Paraná, e ele era um dos meus mentores. Já avançado em idade, ele tinha sido militar, diplomata e empreendedor, mas em seu peito sempre bateu um coração de educador, então abraçou com força a oportunidade de conduzir a capacitação de professores em um dos projetos mais belos que já se fizeram nessa área.

Até que um dia recebo o telefonema que ninguém gosta nem está preparado para receber. Portugal havia sofrido o derrame que o deixaria limitado por cerca de quatro anos, até o fim. Ele sempre foi extremamente cuidadoso com sua saúde, caminhava com vigor por uma hora de manhã, alimentava-se bem e fazia seus exames regularmente. E tinha aquela alegria natural que também protege a saúde. Mesmo assim, teve um AVC. Coisas da idade, explicou o médico.

Ele já nos deixou, mas não sem antes nos dar mais uma lição de força. Durante o tempo que viveu depois do derrame, ele não  podia caminhar, falava com alguma dificuldade e dependia de ajuda de sua incansável Verinha para as necessidades mais básicas. Mesmo assim, quando o visitava ele me falava de projetos para o futuro, livros que estava lendo, novas ideias, trabalhos que precisavam ser concluídos. Começou a estudar italiano e a frequentar um centro de equoterapia. Coisas do Portugal. À saída, ele costumava dizer: “Tenha gratidão. Sempre”. E sorria um sorriso menor, mas mais verdadeiro.

Foi em uma conversa com ele que eu comecei a entender uma diferença sutil, mas fundamental, entre agradecimento e gratidão. Agradecer é um ato, tem a ver com educação, reconhecimento e justiça. Gratidão é um sentimento, é algo que se carrega no peito, que pertence à pessoa como um valor, uma filosofia de vida. Um agradecimento sincero eleva a qualidade das relações entre as pessoas. Gratidão faz mais que isso. Eleva a qualidade humana de que a tem.

Nada mais justo do que reconhecer o mérito de um ato bom. Agradecer um favor, um apoio, uma gentileza, uma orientação ou uma oportunidade não é apenas uma demonstração de reconhecimento e de educação. É um tributo à justiça.

Eu mesmo tenho que agradecer muito a muitas pessoas por muitas coisas. A meus pais pelos valores que me incutiram. A minha irmã que me incentivou à leitura. Aos professores que me ensinaram, aos médicos que me curaram, aos chefes que me puseram na linha. Aos amigos, às namoradas, aos colegas, aos vizinhos. Tenho muito o que agradecer aos meus filhos e à minha mulher, e estou certo de que ainda terei muitos motivos para agradecer a ela, e a muitos.

Há tanto a agradecer a tanta gente que passou por minha vida e que deixou marcas boas e indeléveis em meu caráter. Essas pessoas passaram, mas permanecem em mim. E sinto gratidão por isso. A elas eu já agradeci, educado que sou, mas a gratidão, aquele sentimento que aquece o peito, este continua comigo.

Agradecer faz bem

Sim, logo aprendi que agradecer é justo, melhora as relações e abre espaço para novos favores. É chato fazer um favor, ser gentil, prestar uma assistência para alguém e não perceber o menor traço de agradecimento. Agradecer é polido, simpático, e prepara o terreno para uma convivência mais agradável e profícua. Lembro de ter aprendido que as três palavras mágicas são “por favor”, “desculpe” e “obrigado”. Teriam sido elas que criaram a civilização.

O fato que me custou mais tempo de percepção, foi que a gratidão e o  agradecimento nem sempre estão juntos. Como já foi dito, o ato de agradecer é nobre e polido, desde que tenha sido gestado no útero da gratidão. Senão é falso e interesseiro. Já a gratidão, esta é algo superior, que pertence ao espírito. Como é bom ser agradecido pela vida com todas as suas possibilidades. Como é necessário ser agradecido até às limitações e dificuldades, pois estas, não só nos melhoram, como nos ajudam a perceber o valor das possibilidades e oportunidades. “Não existiria luz se não fosse a escuridão”, cantou Lulu santos.

Sem fazer nenhum proselitismo, eu afirmo que que sinto imensa gratidão até por todas as crises que tive na vida (e quem não as teve?). No meio do furacão eu me revoltava com a vida, mas depois, pensando bem, eu sempre sai melhor de uma crise do que era quando nela entrei. Não há como pagar o ensinamento que uma crise, de qualquer natureza – emocional, financeira, existencial –, é capaz de incutir em nossa mente e em nossa alma. Sim, há muitas coisas que não há como pagar, a não ser com gratidão.

Quem sente gratidão tem necessidade de agradecer e às vezes não sabe a quem. Em nossa cultura fomos educados a agradecer a Deus, como nosso criador e provedor, tanto é que “graças a Deus” é uma expressão corriqueira, ancorada no arquétipo popular. Quem nunca disse “graças a Deus”?  Essa expressão é tão forte que às vezes as pessoas se esquecem de agradecer a quem as ajudou em termos práticos: o médico, o bombeiro, o amigo, o policial. Bem, sempre podemos alegar que graças a Deus eles estavam por perto. Faz sentido.

Agradecer a Deus faz bem, conforta, alegra e dá uma sensação gostosa de estar acompanhado. Mas às vezes pensamos: “Porque Ele não ajudou aos demais? Porque só a mim? Ou porque só não a mim?”. Mas logo afastamos essa pergunta, por um simples motivo. Ela não tem resposta. Somos muito pequenos para julgar, ou mesmo compreender, todas as intrincadas artimanhas do destino.
Gratidão a quem? A Deus? À vida? Não importa. O importante é a gratidão. Ela engrandece quem a sente e dará um jeito de atingir seu alvo. Sugestão: quando achar que não tem o que ou a quem agradecer, encontre e escute a chilena Violeta Parra: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto…”. De preferência na voz da argentina Mercedes Sosa. Você vai agradecer a dica.

Esta é uma edição de aniversário da Vida Simples. Onze anos, quem diria! E eu confesso que sinto uma imensa gratidão aqui no peito por esse convívio maravilhoso de todos os meses. E sinto vontade de agradecer, também. Agradecer aos editores, desde o primeiro, que me convidou, o jornalista Otávio Rodrigues, até nossa querida Aninha Holanda, que atualmente é a responsável por cobrar meus textos.

E, claro, agradecer aos nossos leitores, que são a razão da existência da revista. Muito grato, turma! Mas, veja só: às vezes recebo e-mails de leitores, ou encontro com alguns em eventos ou locais públicos e muitos me agradecem. “Eu estava precisando daquelas palavras”. “Parece que você escreveu para mim”. “Obrigado!”.

Agradecer faz parte. Mas o importante não é isso. Importante é o fato de que todos carregamos em nós o agradecimento. E é ele que nos torna humanos de verdade.

Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril. Todos os direitos reservados. Visite o site da revista: www.revistavidasimples.com.br
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Por que ser grato Revista Vida Simples nº 136 - 01/10/2013

- O que você está fazendo?

Não era necessário que ela respondesse. Eu sabia o que ela estava fazendo. Estávamos tomando café da manhã, a mesa era farta, o sol entrava resplandecente pelas janelas, a vista de nosso apartamento é linda, nós dois estamos em perfeita saúde e o dia que começava prometia muitas emoções. Ela olhava para fora, e eu sabia que estava agradecendo. Mesmo assim, ela sorriu e me disse, confirmando minha certeza. Gosto disso. A gratidão como filosofia de vida nos faz melhores.

Minha primeira tarefa do dia seria a de escrever meu artigo para a Vida Simples, e eu agradeci pela inspiração. E resolvi escrever sobre gratidão. Com certeza não seria um artigo muito original, pois este assunto já rendeu muitos textos, escritos por pensadores muito melhores que eu. Esopo, por exemplo, explicou que “A gratidão é uma virtude das almas nobres”. Já, Sêneca, mais pragmático, disse que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação de sua dívida”. Flaubert queixou-se de alguém dizendo que “Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”.

Eu não seria nem justo nem coerente se não fosse grato a esses e outros cérebros brilhantes que alinham meus pensamentos e orientam meus escritos. Obrigado, pessoal, valeu!

O café da manhã terminou e começou o dia. E começou melhor porque sentíamos, ambos, uma gratidão antecipada pelo dia que tínhamos pela frente. Mas a maior gratidão que eu sentia não era pelo café, nem pela paz, nem pelas perspectivas, pois o que eu queria mesmo é que nada disso faltasse a ninguém. A gratidão principal vinha da percepção de eu era capaz de sentir gratidão. E isso me fazia bem.

Gratidão – atitude ou sentimento?

Isso também me fez lembrar de um grande amigo, o Portugal. Eu o conheci quando trabalhei na Universidade do Professor lá no Paraná, e ele era um dos meus mentores. Já avançado em idade, ele tinha sido militar, diplomata e empreendedor, mas em seu peito sempre bateu um coração de educador, então abraçou com força a oportunidade de conduzir a capacitação de professores em um dos projetos mais belos que já se fizeram nessa área.

Até que um dia recebo o telefonema que ninguém gosta nem está preparado para receber. Portugal havia sofrido o derrame que o deixaria limitado por cerca de quatro anos, até o fim. Ele sempre foi extremamente cuidadoso com sua saúde, caminhava com vigor por uma hora de manhã, alimentava-se bem e fazia seus exames regularmente. E tinha aquela alegria natural que também protege a saúde. Mesmo assim, teve um AVC. Coisas da idade, explicou o médico.

Ele já nos deixou, mas não sem antes nos dar mais uma lição de força. Durante o tempo que viveu depois do derrame, ele não  podia caminhar, falava com alguma dificuldade e dependia de ajuda de sua incansável Verinha para as necessidades mais básicas. Mesmo assim, quando o visitava ele me falava de projetos para o futuro, livros que estava lendo, novas ideias, trabalhos que precisavam ser concluídos. Começou a estudar italiano e a frequentar um centro de equoterapia. Coisas do Portugal. À saída, ele costumava dizer: “Tenha gratidão. Sempre”. E sorria um sorriso menor, mas mais verdadeiro.

Foi em uma conversa com ele que eu comecei a entender uma diferença sutil, mas fundamental, entre agradecimento e gratidão. Agradecer é um ato, tem a ver com educação, reconhecimento e justiça. Gratidão é um sentimento, é algo que se carrega no peito, que pertence à pessoa como um valor, uma filosofia de vida. Um agradecimento sincero eleva a qualidade das relações entre as pessoas. Gratidão faz mais que isso. Eleva a qualidade humana de que a tem.

Nada mais justo do que reconhecer o mérito de um ato bom. Agradecer um favor, um apoio, uma gentileza, uma orientação ou uma oportunidade não é apenas uma demonstração de reconhecimento e de educação. É um tributo à justiça.

Eu mesmo tenho que agradecer muito a muitas pessoas por muitas coisas. A meus pais pelos valores que me incutiram. A minha irmã que me incentivou à leitura. Aos professores que me ensinaram, aos médicos que me curaram, aos chefes que me puseram na linha. Aos amigos, às namoradas, aos colegas, aos vizinhos. Tenho muito o que agradecer aos meus filhos e à minha mulher, e estou certo de que ainda terei muitos motivos para agradecer a ela, e a muitos.

Há tanto a agradecer a tanta gente que passou por minha vida e que deixou marcas boas e indeléveis em meu caráter. Essas pessoas passaram, mas permanecem em mim. E sinto gratidão por isso. A elas eu já agradeci, educado que sou, mas a gratidão, aquele sentimento que aquece o peito, este continua comigo.

Agradecer faz bem

Sim, logo aprendi que agradecer é justo, melhora as relações e abre espaço para novos favores. É chato fazer um favor, ser gentil, prestar uma assistência para alguém e não perceber o menor traço de agradecimento. Agradecer é polido, simpático, e prepara o terreno para uma convivência mais agradável e profícua. Lembro de ter aprendido que as três palavras mágicas são “por favor”, “desculpe” e “obrigado”. Teriam sido elas que criaram a civilização.

O fato que me custou mais tempo de percepção, foi que a gratidão e o  agradecimento nem sempre estão juntos. Como já foi dito, o ato de agradecer é nobre e polido, desde que tenha sido gestado no útero da gratidão. Senão é falso e interesseiro. Já a gratidão, esta é algo superior, que pertence ao espírito. Como é bom ser agradecido pela vida com todas as suas possibilidades. Como é necessário ser agradecido até às limitações e dificuldades, pois estas, não só nos melhoram, como nos ajudam a perceber o valor das possibilidades e oportunidades. “Não existiria luz se não fosse a escuridão”, cantou Lulu santos.

Sem fazer nenhum proselitismo, eu afirmo que que sinto imensa gratidão até por todas as crises que tive na vida (e quem não as teve?). No meio do furacão eu me revoltava com a vida, mas depois, pensando bem, eu sempre sai melhor de uma crise do que era quando nela entrei. Não há como pagar o ensinamento que uma crise, de qualquer natureza – emocional, financeira, existencial –, é capaz de incutir em nossa mente e em nossa alma. Sim, há muitas coisas que não há como pagar, a não ser com gratidão.

Quem sente gratidão tem necessidade de agradecer e às vezes não sabe a quem. Em nossa cultura fomos educados a agradecer a Deus, como nosso criador e provedor, tanto é que “graças a Deus” é uma expressão corriqueira, ancorada no arquétipo popular. Quem nunca disse “graças a Deus”?  Essa expressão é tão forte que às vezes as pessoas se esquecem de agradecer a quem as ajudou em termos práticos: o médico, o bombeiro, o amigo, o policial. Bem, sempre podemos alegar que graças a Deus eles estavam por perto. Faz sentido.

Agradecer a Deus faz bem, conforta, alegra e dá uma sensação gostosa de estar acompanhado. Mas às vezes pensamos: “Porque Ele não ajudou aos demais? Porque só a mim? Ou porque só não a mim?”. Mas logo afastamos essa pergunta, por um simples motivo. Ela não tem resposta. Somos muito pequenos para julgar, ou mesmo compreender, todas as intrincadas artimanhas do destino.
Gratidão a quem? A Deus? À vida? Não importa. O importante é a gratidão. Ela engrandece quem a sente e dará um jeito de atingir seu alvo. Sugestão: quando achar que não tem o que ou a quem agradecer, encontre e escute a chilena Violeta Parra: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto…”. De preferência na voz da argentina Mercedes Sosa. Você vai agradecer a dica.

Esta é uma edição de aniversário da Vida Simples. Onze anos, quem diria! E eu confesso que sinto uma imensa gratidão aqui no peito por esse convívio maravilhoso de todos os meses. E sinto vontade de agradecer, também. Agradecer aos editores, desde o primeiro, que me convidou, o jornalista Otávio Rodrigues, até nossa querida Aninha Holanda, que atualmente é a responsável por cobrar meus textos.

E, claro, agradecer aos nossos leitores, que são a razão da existência da revista. Muito grato, turma! Mas, veja só: às vezes recebo e-mails de leitores, ou encontro com alguns em eventos ou locais públicos e muitos me agradecem. “Eu estava precisando daquelas palavras”. “Parece que você escreveu para mim”. “Obrigado!”.

Agradecer faz parte. Mas o importante não é isso. Importante é o fato de que todos carregamos em nós o agradecimento. E é ele que nos torna humanos de verdade.

Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril. Todos os direitos reservados. Visite o site da revista: www.revistavidasimples.com.br
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Por que ser grato Revista Vida Simples nº 136 - 01/10/2013

- O que você está fazendo?

Não era necessário que ela respondesse. Eu sabia o que ela estava fazendo. Estávamos tomando café da manhã, a mesa era farta, o sol entrava resplandecente pelas janelas, a vista de nosso apartamento é linda, nós dois estamos em perfeita saúde e o dia que começava prometia muitas emoções. Ela olhava para fora, e eu sabia que estava agradecendo. Mesmo assim, ela sorriu e me disse, confirmando minha certeza. Gosto disso. A gratidão como filosofia de vida nos faz melhores.

Minha primeira tarefa do dia seria a de escrever meu artigo para a Vida Simples, e eu agradeci pela inspiração. E resolvi escrever sobre gratidão. Com certeza não seria um artigo muito original, pois este assunto já rendeu muitos textos, escritos por pensadores muito melhores que eu. Esopo, por exemplo, explicou que “A gratidão é uma virtude das almas nobres”. Já, Sêneca, mais pragmático, disse que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação de sua dívida”. Flaubert queixou-se de alguém dizendo que “Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter”.

Eu não seria nem justo nem coerente se não fosse grato a esses e outros cérebros brilhantes que alinham meus pensamentos e orientam meus escritos. Obrigado, pessoal, valeu!

O café da manhã terminou e começou o dia. E começou melhor porque sentíamos, ambos, uma gratidão antecipada pelo dia que tínhamos pela frente. Mas a maior gratidão que eu sentia não era pelo café, nem pela paz, nem pelas perspectivas, pois o que eu queria mesmo é que nada disso faltasse a ninguém. A gratidão principal vinha da percepção de eu era capaz de sentir gratidão. E isso me fazia bem.

Gratidão – atitude ou sentimento?

Isso também me fez lembrar de um grande amigo, o Portugal. Eu o conheci quando trabalhei na Universidade do Professor lá no Paraná, e ele era um dos meus mentores. Já avançado em idade, ele tinha sido militar, diplomata e empreendedor, mas em seu peito sempre bateu um coração de educador, então abraçou com força a oportunidade de conduzir a capacitação de professores em um dos projetos mais belos que já se fizeram nessa área.

Até que um dia recebo o telefonema que ninguém gosta nem está preparado para receber. Portugal havia sofrido o derrame que o deixaria limitado por cerca de quatro anos, até o fim. Ele sempre foi extremamente cuidadoso com sua saúde, caminhava com vigor por uma hora de manhã, alimentava-se bem e fazia seus exames regularmente. E tinha aquela alegria natural que também protege a saúde. Mesmo assim, teve um AVC. Coisas da idade, explicou o médico.

Ele já nos deixou, mas não sem antes nos dar mais uma lição de força. Durante o tempo que viveu depois do derrame, ele não  podia caminhar, falava com alguma dificuldade e dependia de ajuda de sua incansável Verinha para as necessidades mais básicas. Mesmo assim, quando o visitava ele me falava de projetos para o futuro, livros que estava lendo, novas ideias, trabalhos que precisavam ser concluídos. Começou a estudar italiano e a frequentar um centro de equoterapia. Coisas do Portugal. À saída, ele costumava dizer: “Tenha gratidão. Sempre”. E sorria um sorriso menor, mas mais verdadeiro.

Foi em uma conversa com ele que eu comecei a entender uma diferença sutil, mas fundamental, entre agradecimento e gratidão. Agradecer é um ato, tem a ver com educação, reconhecimento e justiça. Gratidão é um sentimento, é algo que se carrega no peito, que pertence à pessoa como um valor, uma filosofia de vida. Um agradecimento sincero eleva a qualidade das relações entre as pessoas. Gratidão faz mais que isso. Eleva a qualidade humana de que a tem.

Nada mais justo do que reconhecer o mérito de um ato bom. Agradecer um favor, um apoio, uma gentileza, uma orientação ou uma oportunidade não é apenas uma demonstração de reconhecimento e de educação. É um tributo à justiça.

Eu mesmo tenho que agradecer muito a muitas pessoas por muitas coisas. A meus pais pelos valores que me incutiram. A minha irmã que me incentivou à leitura. Aos professores que me ensinaram, aos médicos que me curaram, aos chefes que me puseram na linha. Aos amigos, às namoradas, aos colegas, aos vizinhos. Tenho muito o que agradecer aos meus filhos e à minha mulher, e estou certo de que ainda terei muitos motivos para agradecer a ela, e a muitos.

Há tanto a agradecer a tanta gente que passou por minha vida e que deixou marcas boas e indeléveis em meu caráter. Essas pessoas passaram, mas permanecem em mim. E sinto gratidão por isso. A elas eu já agradeci, educado que sou, mas a gratidão, aquele sentimento que aquece o peito, este continua comigo.

Agradecer faz bem

Sim, logo aprendi que agradecer é justo, melhora as relações e abre espaço para novos favores. É chato fazer um favor, ser gentil, prestar uma assistência para alguém e não perceber o menor traço de agradecimento. Agradecer é polido, simpático, e prepara o terreno para uma convivência mais agradável e profícua. Lembro de ter aprendido que as três palavras mágicas são “por favor”, “desculpe” e “obrigado”. Teriam sido elas que criaram a civilização.

O fato que me custou mais tempo de percepção, foi que a gratidão e o  agradecimento nem sempre estão juntos. Como já foi dito, o ato de agradecer é nobre e polido, desde que tenha sido gestado no útero da gratidão. Senão é falso e interesseiro. Já a gratidão, esta é algo superior, que pertence ao espírito. Como é bom ser agradecido pela vida com todas as suas possibilidades. Como é necessário ser agradecido até às limitações e dificuldades, pois estas, não só nos melhoram, como nos ajudam a perceber o valor das possibilidades e oportunidades. “Não existiria luz se não fosse a escuridão”, cantou Lulu santos.

Sem fazer nenhum proselitismo, eu afirmo que que sinto imensa gratidão até por todas as crises que tive na vida (e quem não as teve?). No meio do furacão eu me revoltava com a vida, mas depois, pensando bem, eu sempre sai melhor de uma crise do que era quando nela entrei. Não há como pagar o ensinamento que uma crise, de qualquer natureza – emocional, financeira, existencial –, é capaz de incutir em nossa mente e em nossa alma. Sim, há muitas coisas que não há como pagar, a não ser com gratidão.

Quem sente gratidão tem necessidade de agradecer e às vezes não sabe a quem. Em nossa cultura fomos educados a agradecer a Deus, como nosso criador e provedor, tanto é que “graças a Deus” é uma expressão corriqueira, ancorada no arquétipo popular. Quem nunca disse “graças a Deus”?  Essa expressão é tão forte que às vezes as pessoas se esquecem de agradecer a quem as ajudou em termos práticos: o médico, o bombeiro, o amigo, o policial. Bem, sempre podemos alegar que graças a Deus eles estavam por perto. Faz sentido.

Agradecer a Deus faz bem, conforta, alegra e dá uma sensação gostosa de estar acompanhado. Mas às vezes pensamos: “Porque Ele não ajudou aos demais? Porque só a mim? Ou porque só não a mim?”. Mas logo afastamos essa pergunta, por um simples motivo. Ela não tem resposta. Somos muito pequenos para julgar, ou mesmo compreender, todas as intrincadas artimanhas do destino.
Gratidão a quem? A Deus? À vida? Não importa. O importante é a gratidão. Ela engrandece quem a sente e dará um jeito de atingir seu alvo. Sugestão: quando achar que não tem o que ou a quem agradecer, encontre e escute a chilena Violeta Parra: “Gracias a la vida, que me ha dado tanto…”. De preferência na voz da argentina Mercedes Sosa. Você vai agradecer a dica.

Esta é uma edição de aniversário da Vida Simples. Onze anos, quem diria! E eu confesso que sinto uma imensa gratidão aqui no peito por esse convívio maravilhoso de todos os meses. E sinto vontade de agradecer, também. Agradecer aos editores, desde o primeiro, que me convidou, o jornalista Otávio Rodrigues, até nossa querida Aninha Holanda, que atualmente é a responsável por cobrar meus textos.

E, claro, agradecer aos nossos leitores, que são a razão da existência da revista. Muito grato, turma! Mas, veja só: às vezes recebo e-mails de leitores, ou encontro com alguns em eventos ou locais públicos e muitos me agradecem. “Eu estava precisando daquelas palavras”. “Parece que você escreveu para mim”. “Obrigado!”.

Agradecer faz parte. Mas o importante não é isso. Importante é o fato de que todos carregamos em nós o agradecimento. E é ele que nos torna humanos de verdade.

Texto publicado sob licença da revista Vida Simples, Editora Abril. Todos os direitos reservados. Visite o site da revista: www.revistavidasimples.com.br
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