TRISTEZA UMA DOR QUE MUITAS VEZES DURA ANOS (1)
É bem melhor ser alegre do que ser triste, já dizia Vinícius de Moraes. Sem dúvida. O poetinha ia mais longe, entoando em rima e prosa que tristeza não tem fim. Já a felicidade, sim. Até hoje, muita gente chora ao ouvir esses versos porque tocam num ponto nevrálgico da vida humana: os sentimentos. E quando tais sentimentos provocam algum tipo de dor, fica difícil esquecer – e ainda mais suportar. A tristeza, uma das piores sensações da nossa existência, funciona mais ou menos assim: parece bonita apenas nas músicas. Na vida real, ninguém gosta, ninguém quer.
Pois bem, caro leitor, está na hora de rever seus conceitos. Você já deve ter percebido que a tristeza faz parte da vida, então o jeito é aprender a lidar com ela. Quem já experimentou a sensação de felicidade, certamente, já ficou triste também – até porque uma não existe sem a outra. Por isso, em vez de ficar se lamentando, a partir de agora você vai descobrir que o estado de melancolia tem seu lado bom, podendo até ser produtivo em muitos casos.
Por que ficamos tristes?
Tristeza
é um sentimento que responde a estímulos internos, como recordações,
memórias, vivências; ou externos, como a perda de um emprego ou de um
amor. Não se trata de uma emoção, que é uma resposta imediata a um
estímulo. No caso da tristeza, nosso organismo elabora a sensação e
amadurece-a antes de manifestar. É uma resposta natural a situações de
perda ou de frustrações, em que são liberados hormônios cerebrais,
chamados neurormônios, responsáveis pela angústia, melancolia ou coração
apertado.Como ninguém recebe somente notícias boas o dia todo, não há como fugir do estado de tristeza. O que dá para mexer é no significado dos estímulos e assim fazer com que ela apareça em menor grau de intensidade. “A tristeza é uma resposta que faz parte da nossa forma de ser e estar no mundo. Passamos o dia flutuando entre pólos de alegria e infelicidade”, afirma o médico psiquiatra Ricardo Moreno, coordenador do Grupo de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Se passamos o dia entre esses pólos de flutuação, é bom não levar tão a sério os comerciais de margarina em que a família é linda, perfeita, alegre e até os cachorros parecem sorrir o tempo inteiro. Não apenas na televisão, mas vivemos uma época em que a felicidade constante é praticamente um dever de todos. O físico, matemático e filósofo francês Blaise Pascal é autor de algumas das mais famosas reflexões sobre o tema. “A felicidade é o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar”, escreveu no século 17. O desejo desenfreado de querer ser feliz ganhou até status de direito social a partir do movimento iluminista, no século 18, cuja filosofia influenciou a Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos. Na Constituição americana, a busca da felicidade é assegurada como um “direito inalienável” dos cidadãos. “Quando passo por momentos de melancolia sem saber o porquê, me sinto até culpado. Afinal, como um sujeito bem-sucedido profissionalmente, com namorada e uma família linda, poderia se sentir triste?”, diz o analista de sistemas Guilherme Azevedo,de 26 anos.
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