CLARISSA CORREIA "TUDO AQUILO"...
Tudo aquilo que eu sempre quis te dizer

Hoje eu quero falar sobre você
e sobre tudo aquilo que me maltrata por dentro. Sabe, são tantas
coisas. Acredito que você também tenha as suas mágoas escondidinhas em
um canto do peito. Poucas vezes te vi chorar. Muitas vezes te vi calar e
guardar. Sempre achei melhor colocar as coisas para fora, gritar,
explodir, falar, conversar. Mas existe algo que me deixa muda. Nunca
consegui falar sobre os meus sentimentos mais profundos para você. Algo
me travava. Hoje resolvi dizer.
Escrevo
porque você tem muita importância na minha vida. Não quero que a gente
se perca. Não quero que a gente se afaste. E me pergunto: será que fomos
realmente próximos por algum instante? Creio que sim, mas acho que nos
afastamos faz tempo. Eu não entendo seu jeito racional, você não
compreende minhas emoções e muitas vezes não respeita os caminhos que
escolhi para a minha vida.
Sabe,
eu só queria ser boa. É, é isso mesmo. Eu queria ser boa o suficiente
para você se orgulhar de mim. Por isso, pintei vários quadros. Por isso,
queria chamar a sua atenção. Queria um elogio, algo assim. Queria que
você lesse meus textos, se orgulhasse do meu livro, das minhas
conquistas. Mas você se detém nos meus tropeços. Usa escudos, não se
aproxima. Usa a palavra para me repelir. Você não sabe o quanto me magoa
a cada vez que me agride com as palavras e não entende a minha
subjetividade. Eu vejo a vida de uma forma bonita. Tenho olhos de
otimismo, um coração que nunca para, uma emoção que vive de braços
abertos.
Eu
queria os seus braços abertos. Não queria críticas, nem cobranças, nem
caras feias. Queria colo, atenção, queria que pelo menos uma vez você
secasse as minhas lágrimas. Sabe, sempre tive vergonha de chorar na sua
frente. Me sinto boba, quase infantil. Antes, eu saía, batia portas, me
escondia, chorava. Sempre esperei que você fosse atrás de mim, me
abraçasse. Meu Deus, quantas vezes esperei por um abraço que nunca veio.
Tenho
defeitos. Muitos deles. E você sempre me apontou cada um. Por favor,
entenda que você tem defeitos também. Eu busco evoluir, crescer,
aprender a andar com as próprias pernas, mas sinto que você não sorri
com minhas conquistas. Você não gosta da vida que escolhi para mim, não
tolera meu trabalho, não vê graça no meu caminho, acha burrice e bobagem
tantas coisas que me importam demais.
Sei
que errei ao tentar ser perfeita e andar em linha reta. Sei que errei
ao passar grande parte da vida tentando ser alguém. Sei que tenho minha
parcela de culpa. Ei, existe culpa nisso? Você tem um coração tão bom, é
uma pessoa tão cheia de qualidades e bondade. Mas você não sabe lidar
com emoção, tem uma couraça, uma casca, um escudo, se protege talvez de
você mesmo. Por favor, se abra para a vida. Sorria para a vida. Se
encante pela vida. Libere as suas tensões. E tente achar o amor no meio
disso tudo.
Vejo
você com o baixinho e penso ele-tem-amor-pra-dar. Mas cadê esse amor
todo? Cadê o olhar terno e cheio de carinho e orgulho? Tento lembrar
quando você disse que eu era bonita ou inteligente ou engraçada ou legal
ou sei lá, alguma coisa boa. Não lembro. Desculpa, eu não consigo
lembrar! Isso me dói tanto. Você não sabe o quanto. Você pode escolher
maneiras mais delicadas de falar as coisas. Mas você prefere dizer que
estou gorda ao invés de dizer olha, é bom você emagrecer, está acima do
peso, emagrecer vai te fazer bem. Mas você prefere a ofensa do que o
carinho. O peso do que a leveza.
Lembro
de antes. De muito antes. Você teve tanto amor e cuidado um dia.
Depois, quando a gente se mudou, as cobranças vieram. Queria resultados,
dez, dez, dez. E eu não conseguia, pois era preguiçosa demais. Então,
tentei de outras formas. Tentei a arte. Não deu. Abandonei a arte, me
abandonei um pouco. Tinha medo de você. Medo de ser eu mesma, de expor
meus sentimentos, verdades e vontades. Medo do olhar torto, da crítica
feroz. Você não gosta das minhas brincadeiras, não engole minhas
ironias, não sabe quando estou brincando. Eu só queria me sentir
importante para você, sabia? Minha vida inteira busquei isso, busquei
admiração. É essa a palavra: queria que você me admirasse. Admirasse meu
trabalho, minhas escolhas, minha força, meus caminhos.
Há
pouco tempo, passamos por uma situação bem difícil que me fez um mal
absurdo. Durante quase um mês, pensei que não ia aguentar. Mas vi o
quanto sou forte e capaz de encarar as adversidades, os contratempos.
Talvez você não saiba o quanto aquilo me marcou, o quanto eu sofri.
Dormia chorando todas as noites, mas acordava e te ouvia. Dei meu ombro,
meu conselho, meu amor. Era exatamente isso que esperava de você: seu
ombro. Mas eu tenho vergonha de pedir, eu não sei pedir e não sei se
você sabe se dar, se doar. Largue as armas, os escudos, os disfarces.
Precisei
tanto de você. Do seu apoio. Mas parece que você sempre me apoiou a
contragosto. Engolindo, aceitando, mas não concordando. E eu precisei da
sua aprovação, do seu empurrão. Não financeiramente, mas
emocionalmente. Precisei da sua força. Precisei ouvir um elogio. Uma
palavra incentivadora. Mas sempre me senti devendo. Sei que te
decepcionei, sei que não fui por onde você achava que deveria, mas, por
favor, entenda: cada um faz o seu caminho.
Hoje,
estou mais madura e um pouco mais serena. Entendi que não tenho que
provar nada, nem ficar tentando agradar sendo quem não sou. Eu sou essa
que você está vendo e, sim, tenho falhas. E, sim, sou pura emoção. Tenho
algumas cicatrizes, feridas que não fecharam direito, raivas, coisas
mal resolvidas. Quero me livrar disso tudo e seguir em frente. Preciso
resolver isso e seguir no caminho que escolhi para mim. Espero que você
se livre das coisas ruins e me acompanhe também. Nunca é tarde para
aparar arestas. ( CLARISSA CORREIA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário